Refutando as afirmações de Dráuzio Varela.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011


Dom Eduardo Benes
Arcebispo de Sorocaba (SP)


Começo a presente reflexão com duas citações. A primeira: “quem nunca meteu a mão em alguma namorada”, foi mais ou menos esta a declaração de Bruno, então goleiro do Flamengo, para defender seu colega Adriano, acusado na ocasião de violência contra sua namorada. A segunda: “quem não teve uma namoradinha que teve que abortar”, esta do governador do Rio, Sérgio Cabral, governador do Rio.

Passo agora à consideração sobre algumas afirmações do Dr. Dráuzio Varela em artigo, publicado na Imprensa local sobre “Violência contra homossexuais”. A tese de fundo é que a frequência dos fatos constitui o costume e o costume institui o direito. Assim: “Não há descrição de civilização alguma que não faça referência à existência de mulheres e homens homossexuais. Apesar dessa constatação, ainda hoje esse tipo de comportamento é chamado de antinatural”.

Imagine leitor (a), a ampliação desse argumento aplicado à pedofilia e aos outros crimes em geral. Logo a seguir o Dr. Dráuzio coloca em cheque o conceito de lei natural: “os que assim julgam partem do princípio de que a natureza (ou Deus) criou órgãos sexuais para que os seres humanos procriassem; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele)”. Logo depois amplia seu raciocínio voltando ao princípio de que os costumes se justificam por si mesmos, colocando no mesmo patamar de dignidade o beijo erótico e o sexo anal entre heterossexuais.

É claro que o sentido maior da existência de haver macho e fêmea nas espécies animais, com pênis e vagina, é a procriação. Criado que fui na “roça”, pude observar que o “costume” dos irracionais - porco, gado, equinos, caprinos e outros, - é de só “fazerem sexo” quando a fêmea entra em cio, que é uma função biológica ligada à maturação do óvulo na fêmea. Nunca vi um par de irracionais do mesmo sexo, machos ou fêmeas, em real coito e, muito menos em união estável. Um casal de humanos, que tenha vivido uma vida sexual digna, em sincero amor, se gerou filhos, haverá de dizer que o melhor que o sexo lhes ofereceu foi a graça dos filhos e de uma amizade consolidada.

Este, - o aprofundamento do amor e a consolidação da amizade -, constitui também uma dimensão fundamental da vivência matrimonial de modo a justificar a vida sexual também de pessoas eventualmente estéreis. Não deixará, entretanto, de ser fecundo o amor de um casal nessas condições, porque os dois poderão adotar filhos ou se empenhar no serviço à comunidade humana.

É necessário ainda afirmar que, mesmo na vida matrimonial, a vivência sexual deve respeitar o sentido da sexualidade humana, no que deve ser levada também em conta a anatomia do sexo. O amor e o respeito devem estar presentes nesse que constitui o mais envolvente dos abraços entre um homem e uma mulher. Se a busca do prazer, mesmo pactuado, for a razão primeira da relação, ou seja, se a relação não for presidida por uma amor sincero, haverá nela um vazio de dignidade que progressivamente levará ao esvaziamento a união do casal. Não é por acaso que se multiplicam os divórcios nessa cultura hedonista, onde os costumes, mesmo os maus costumes, se tornam direitos. O argumento de que se constatou, em “muitas” espécies animais, práticas homossexuais é inútil, pois carece de maior esclarecimento. As exceções, sobretudo as do mundo dos bichos, não podem servir para justificar as práticas humanas.

A fidelidade dos casais de cisnes, embora não constitua argumento a favor da indissolubilidade do matrimônio, é um belo símbolo do significado do amor que une um casal. Por fim, o Dr. Dráuzio deixa escapar, em seu artigo, uma pitada de bom senso, ao afirmar: “Não sejamos ridículos, quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.”

O adjetivo “dominante” é desnecessário, por insinuar que a questão é meramente cultural. Estou de acordo que a homossexualidade é uma condição sobre a qual a pessoa quase sempre não tem responsabilidade. Outra coisa, entretanto, é o homossexualismo. Este se refere ao comportamento sexual vivido. A moral cristã propõe como forma humanizante de lidar com a sexualidade a virtude da castidade pela qual o sexo se inscreve no horizonte do amor. Nesse sentido seria discriminação considerar a pessoa com tendência homossexual incapaz de autodomínio, reduzindo-a à sua própria tendência.

O respeito e o amor às pessoas com configuração homossexual, qualquer que seja sua condição existencial, são de fundamental importância para a paz na família e na sociedade. Ajudá-las a se integrarem com dignidade na vida da Igreja e da sociedade é nossa missão de pastores. Mas é nossa missão também ensinar que matrimônio é a união estável entre homem e mulher a quem, por primeiro, cabe a missão de gerar e educar os filhos.

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Salve Maria!

Que o Espírito Santo conduza suas palavras. E que Deus nos abençoe sempre.

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***Para maiores esclarecimentos: não sou adepta deste falso ecumenismo, não sou relativista, não sou sincretista, não tenho a mínima vontade de divulgar heresias; minha intenção não será outra a não ser combater tudo que cito acima!

Por fim, penso que esclarecidas as partes, que sejam bem vindos todos que vierem acrescentar algo mais neste pequeno sítio.