Romantismo Alemão ( 3° Post) - veio esotérico

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010


II - Os veios originais do Romantismo Alemão

Estudando as origens do Romantismo alemão, podemos distinguir três veios formadores principais:

A. o veio esotérico
B. o veio religioso
C. o veio filosófico

Esses três veios conduzem a um nome e a uma doutrina. O nome é o de Jacob Boehme (clique para saber mais). A doutrina é a da Gnose, quer na sua forma cristã, quer na sua forma judáica, que é a Cabala.

A. O veio esotérico

Auguste Viatte (doutor nas relações catolicismo/romantismo) considera que há vários romantismos, com fontes diversas, mas de todas essas fontes participou o Iluminismo, amalgamando-as num todo equívoco e bizarro. Vulgarmente se entende por Iluminismo o sistema filosófico racionalista, que dominou largas camadas do mundo cultural e político no século XVIII.

Por outro lado, são conhecidos como "iluminados" os membros da seita secreta fundada por Adam Weishaupt ( a "Ordem dos Perfeitos" mais conhecida como Illuminati. Ensinava que existia uma iluminação racional, fora e acima da fé, acessível a qualquer pessoa, e poderia levar a uma maior perfeição).

Contra a monopolização do título de iluminados aos defensores de Weishaupt, já no século XVIII, protestavam Joseph de Maistre e Kircberger. Para este último, iluminados eram, propriamente, os esclarecidos por luzes ou graças divinas e que compreendiam as limitações da razão.

"A palavra iluminado significava originalmente um homem cuja razão e conhecimentos naturais eram retificados, sustentados, esclarecidos e aperfeiçoados pelo Espírito Santo; tais haviam sido os Apóstolos, tais eram todos os verdadeiros santos da Igreja cristã, tais tinham sido e tais são ainda todos os homens efetivamente religiosos, que são esclarecidos pelo alto, na proporção da pureza de seu coração e do sentimento profundo da insuficiência e dos limites de sua própria razão" (Carta de Kirchberger a Marsanne, em 1 / XI / 1796, citada por A. Viatte, op. cit. pp. 7 e 8).

Kirchberger afirma que os inimigos da religião, para confundir, começaram a chamar de Iluminados os visionários que, por vezes, eram de boa fé. A seguir, charlatães e impostores, do tipo de Cagliostro (foi um viajante, ocultista, alquimista, curandeiro e maçom do século XVIII), se arrogaram esse título, para enganar incautos. Mas, piores que todos eles foram os racionalistas, inimigos da religião, que adotaram o nome de iluminados, embora não cressem na iluminação sobrenatural, no caso os Illuminati.

Jacques D'Hondt dá uma pequena lista destes iluminados da baviera, da qual fazem parte, entre outros, os nomes de Herder, Wieland, Goethe, o futuro Padre redentorista Zacarias Werner, o Conde Stolberg, que se tornou, depois, devoto de Anna Katharina Emmerick e amigo do Bispo Sailer, Pestalozzi, Mozart, Dalberg, Mirabeau e Taleyrand.

O Iluminismo verdadeiro seria, pois, segundo Kirchberger, o religioso, aquele que reconhece que a verdadeira luz que ilumina e guia o homem vem de Deus e não da razão. Não se confunde, porém, essa iluminação sobrenatural com a de nenhuma confissão religiosa particular. Acreditavam os "iluminados" que em qualquer religião se poderia receber a iluminação divina.

"O iluminismo não se reduz ao ecletismo ( busca a conciliação de teorias distintas), mas historicamente, ele permanece inseparável dele, como, aliás, toda teosofia" (Antoine Faivre - L'ésotérisme au XVIII ème siècle en France et en Allemagne, Seghers, Paris, 1973, p. 62).

Depois do ecletismo, a segunda nota do iluminismo foi o esoterismo.

Esses iluminados consideravam-se possuidores de uma doutrina recebida ou diretamente de Deus, ou por meio de uma longa tradição imemorial, que se transmitira secretamente através das idades:

"Ciência de Deus, luz vinda do alto: a etimologia nos dá a melhor definição da teosofia e do iluminismo. Os místicos que professam essas doutrinas acreditam possuir, por uma revelação direta, os segredos do mundo superior; a "inspiração", e mais freqüentemente, a associação secreta os caracterizam: "todos esses homens, pouco satisfeitos com os dogmas nacionais e com o culto recebido, entregam-se a pesquisas mais ou menos ousadas sobre o cristianismo que eles chamam de primitivo" (Joseph de Maistre "Quatrième chapitre sur la Russie", Oeuvres, VIII, 329).

Mais do que por qualquer outro autor, a teosofia dos iluminados e dos românticos foi influenciada por Jacob Boehme. O sapateiro místico de Gorlitz marcou muito especialmente o esoterismo martinesista - (de Martines de Pasquallys) - e o chamado martinismo do "filósofo desconhecido", Louis Claude de Saint Martin, que traduziu as obras de Boehme para o francês e as fez repercutir depois nos ambientes esotéricos alemães, especialmente através de Franz von Baader.

Rol dos principais temas e teses mais comuns tratados e defendidos por esses autores:

a) Filosofia "analógica", isto é, que vê uma correspondência mágica entre Deus, o universo e o homem, de tal modo que o homem seria um microthéos, enquanto Deus e o universo seriam um macro-antropos.

b) Concepção de uma Igreja espiritual, mística, formada por todos aqueles que aderem à tradição esotérica. As igrejas estruturadas seriam meros veículos esotéricos para conduzir os iluminados à verdadeira Igreja espiritual esotérica, ecumênica e anti-dogmática.

c) Teosofia. Preocupação e pretensão de conhecer o processo de vida da Divindade.

d) Conhecimento da verdadeira natureza divina do homem: no homem, segundo eles, há uma partícula ou centelha divina (a "Fúnkenlein" de Mestre Eckhart).

e) Concepção de que a cosmogonia foi um processo resultante de uma queda da própria Divindade.

f) Crença de que houve uma Idade de Ouro inicial.

g) Crença de que o primeiro homem teria tido um corpo espiritual, que era andrógino e divino. Este Adão primevo se reproduziria espiritualmente e não por via sexual.

h) Crença de que o primeiro homem, como Deus, sofreu uma queda que o materializou, dando-lhe um corpo sexuado e aprisionador da partícula ou espírito divinos.

i) A queda, além de materializar o homem, sujeitara-o ao espaço e ao tempo, assim como o tornara escravo da natureza e da razão que o enganava, pois fizera com que perdesse a intuição divina, a qual identificava Deus, o universo e o homem.

j) O mundo seria corpo e prisão da divindade em perpétua evolução, à qual se seguiria o processo histórico, revelador da Divindade. Deus se reconstituiria no final do processo histórico.

l) Deus se revelaria no coração de cada homem, independentemente da religião a que pertencesse. Daí a valorização da mística e do inconsciente como fontes de revelação.

m) Por trás da letra da Sagrada Escritura, haveria uma doutrina oculta, à qual se acederia por meios místicos, iniciáticos ou cabalísticos.

n) O homem teria poderes ocultos, que lhe permitiriam pôr-se em contato com a Divindade e transformar magicamente o mundo. A Alquimia seria um desses meios.

o) No final do processo histórico, dar-se-ia a reintegração do homem na Divindade, a recuperação da perfeição original e a reconstituição da Idade de Ouro ou Idade do Amor, em que todos seriam um. Só então o homem e a natureza seriam redimidos. Aceitava-se ainda a apocatastasis, ou redenção universal, inclusive do demônio.

p) A redenção do homem e da Natureza dar-se-iam não por uma graça sobrenatural, mas pelo desenvolvimento de potencialidades imanentes ao Universo e ao ser humano. O homem seria salvador de si mesmo, o redentor que se auto-redime.

q) Seria preciso espiritualizar a matéria para redimi-la, já que ela era espírito cristalizado, e o espírito, matéria sublimada.

r) Dialética. Todo o processo da evolução divina, assim como a evolução e o processo histórico seriam dialéticos, porque a Divindade e o ser seriam constituídos de princípios contrários e iguais. Segundo Jacob Boehme, o ser seria formado de sim e de não, ao mesmo tempo, e o sim seria idêntico ao não.

Este elenco de idéias esotéricas e iluministas, embora fosse ensinado de modo vago, e, às vezes, disparatado, forma um sistema bem conhecido. E este sistema tem o nome de Gnose. Todas essas teses, outrossim, podem ser encontradas nos autores românticos, e são elas que fazem do Romantismo um movimento gnóstico.

Continua no próximo artigo postado.

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***Para maiores esclarecimentos: não sou adepta deste falso ecumenismo, não sou relativista, não sou sincretista, não tenho a mínima vontade de divulgar heresias; minha intenção não será outra a não ser combater tudo que cito acima!

Por fim, penso que esclarecidas as partes, que sejam bem vindos todos que vierem acrescentar algo mais neste pequeno sítio.