Romantismo Alemão ( 2º Post)

domingo, 26 de dezembro de 2010

O conhecimento de si mesmo significava o conhecimento do "infinito subjetivo em si", isto é, do divino no homem, exatamente como diz a Gnose, e este era o ponto de partida do Romantismo. Ora, este vínculo entre o conhecimento do infinito no homem e romantismo dá a esta corrente artística um tonus religioso. Por essa razão, Ricarda Huch afirma que, para os românticos, a arte seria de fato "mística inconscientemente aplicada", e dessa asserção só não aceitamos o termo 'inconscientemente', pois muitos românticos tinham clara consciência de que visavam ter uma experiência mística que lhes daria um "conhecimento absoluto".

Este conhecimento absoluto e salvador seria capaz de reconduzir o homem ao estado de inocência superior, ao estado de Adão no Paraíso:


"Neste sentido, é muito típico o ensaio de Kleist sobre as marionetes, onde se diz que o homem, quando se mirou pela primeira vez no espelho, reconhecendo a si mesmo, perdeu a inocência. Agora, ele quer descobrir o caminho de volta. Para tanto, precisa comer mais uma vez da árvore do conhecimento infinito e alcançar de novo, pelo outro lado, o paraíso da inocência, de uma segunda inocência. (...) O grande sonho dos românticos é a inocência, a segunda inocência que englobe, ao mesmo tempo, todo o caminho percorrido através da cultura, isto é, uma inocência que não seria mais a primitiva, a do jardim do Éden, mas uma inocência sábia. É a famosa criança irônica de Novalis, um dos grandes símbolos do movimento romântico" (Anatol Rosenfeld / J. Guinsburg - "Romantismo e Classicismo" in O Romantismo, org. J. Guinsburg, São Paulo, Perspectiva, 1978, p. 274).


Definir o indefinível, conhecer o incognoscível, obter um conhecimento absoluto e salvador, um conhecimento redentor da Natureza e do homem, capaz de conceder a vida eterna e o retorno à inocência primeira, estas são fórmulas que demonstram bem o parentesco doutrinário direto que o Romantismo tem com a Gnose.


De fato, a Gnose pretende ser exatamente o conhecimento do incognoscível, isto é, o conhecimento do Ser Absoluto, Deus, e o conhecimento do processo vital da divindade (Cfr. Hans Jonas - La religion gnostique, Paris, Flammarion, 1978, p. 371). E, tanto quanto o Romantismo, a Gnose pretende ser um conhecimento absoluto e salvador. Algumas citações podem comprová-lo:


"(...) a gnose (do grego Gnosis, 'conhecimento') é um conhecimento absoluto, que salva por si mesmo, ou que o gnosticismo é a teoria da obtenção da salvação por meio do conhecimento" (Henri-Charles Puech - En quête de la Gnose, Paris, Gallimard, 1978, Vol. I,p. 236).


"Não é arbitrário de colocar um conceito geral de Gnose (como) 'conhecimento' salvador" (Serge Hutin - Les gnostiques, PUF, Paris, "Que sais-je?, 1970, p. 8).


Por sua vez, Robert M. Grant confirma essas afirmações ao dizer:


"...este é o primeiro ponto e o mais importante da definição do gnosticismo: uma religião que salva pelo conhecimento; conhecer, para eles, é essencialmente se conhecer, reconhecer o elemento divino que constitui o verdadeiro Eu" (Robert M. Grant - La Gnose et les origines chrétiennes, Paris, Seuil, 1964, pp. 18-19).


Estas palavras também se aplicam perfeitamente ao Romantismo. Veja-se, por exemplo, como um pensamento de Friedrich Schlegel parece um reflexo delas:

"Tornar-se Deus, ser homem, formar-se, são expressões sinônimas" ("Diventar Dio, essere uomo, formasi sono espressioni sinonime". G. Lukacs - Die Seele und die Formen, Berlim, Luchterland, 1971, p. 71-73 apud M. Puppo, op. cit., p. 276).


Denis de Rougemont dá um nome a essa "spilt Religion":


"A exaltação da morte voluntária, amorosa e divinizante, eis o tema religioso mais profundo dessa nova heresia albigense que foi o romantismo alemão" (Denis de Rougemont - op. cit. p. 204).


Embora possam existir outras interpretações, não é arbitrário, ou improcedente, concluir com Simone de Pétrement que o Romantismo foi uma forma de Gnose.

* Desejo aqui fazer uma observação: este conhecimento romântico e gnóstico dá-se por esta "viagem" interior, por "revelações" místicas e não se trata de um conhecimento baseado num estudo sério sobre qualquer assunto. É algo intrínseco ao "eu divino", que segundo o romantismo e a gnose todos os homens trazem dentro de si.

Continua no próximo artigo postado.

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***Para maiores esclarecimentos: não sou adepta deste falso ecumenismo, não sou relativista, não sou sincretista, não tenho a mínima vontade de divulgar heresias; minha intenção não será outra a não ser combater tudo que cito acima!

Por fim, penso que esclarecidas as partes, que sejam bem vindos todos que vierem acrescentar algo mais neste pequeno sítio.