Nota sobre punição a Padre Antônio Maria

terça-feira, 30 de novembro de 2010

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Arquidiocese de Aracaju

22/11/2010 - 10:35:29


No último dia 5 de novembro a Arquidiocese de Aracaju, através de um Decreto Administrativo de Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Auxiliar e Vigário Geral, puniu o Revmo. Pe. Antônio Maria, conhecido cantor católico, com a pena de cinco anos sem poder desenvolver quaisquer atividades religiosas ou artísticas no território canônico da nossa Arquidiocese.


O Pe. Antônio Maria tinha vindo a uma cidade do interior da nossa Arquidiocese e abençoado um casal e suas alianças no contexto da celebração do seu casamento civil. Isto por si já é terminantemente proibido pelas leis da Igreja, pois o único modo de um casal cristão unir-se licitamente diante de Deus e da Igreja é pelo sacramento do matrimônio religiosamente celebrado. Como agravante, um dos cônjuges dessa união já era casado na Igreja, num matrimônio válido e consumado. O ilícito cometido pelo Padre Antônio Maria chama-se simulação de matrimônio e deve ser punido com justa pena para emenda do réu, salvaguarda da santidade do matrimônio, afirmação da reta fé católica no tocante aos sacramentos, incentivo dos que agem de modo correto, prevenção para que outros não incorram no mesmo erro ou similares e testemunho do zelo da Igreja pela indissolubilidade desse sacramento.


Cumpre informar que o Reverendo Padre tinha sido avisado insistentemente pela Arquidiocese para não vir realizar ato algum no contexto dessa união civil. No entanto, sem dar satisfação à Cúria Metropolitana de Aracaju, simplesmente veio, realizou o show e proferiu a bênção, num ato temerário de desobediência para com a Igreja, descaso para com a Arquidiocese de Aracaju, seus pastores e o povo santo de Deus.


Dom Henrique recebeu o Pe. Antônio Maria no último dia 5. O sacerdote fora intimado a comparecer diante do Bispo e pedir desculpas publicamente, já que público fora o escândalo dado. Assim fez o padre, cumprindo o determinado e recebendo, ao fim, a pena cabível. A sentença do Senhor Bispo Auxiliar foi assumida pelos demais Bispos da Província Eclesiástica de Aracaju, de modo que o Pe. Antônio Maria fica proibido de exercer qualquer atividade religiosa ou artística no âmbito de todo o Estado de Sergipe, cujo território coincide com a Província Eclesiástica de Aracaju. A decisão, tomada após acurada ponderação, era obrigação dos Bispos para o bem do sacerdote punido e do povo de Deus. A documentação pertinente a esta questão encontra-se no link “Decretos e Arquivos”.

Visões absurdas na RCC

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

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  • PERGUNTA
Nome: Vanusa Ignacio
Enviada em: 06/07/2009
Local: Embú - SP, Brasil
Religião: Católica
Escolaridade: 2.o grau concluído
Profissão: Analista de Atendimento


Caro Prof Orlando,


Louvado seja Jesus...


Escrevo-lhe, desta vez, para relatar os acontecimentos que presenciei em retiros e encontros presididos pela RCC. Gostaria de alertar os cristãos que hoje pertencem a esse movimento, e aos demais, estejam eles convictos de sua fé, ou confusos, como eu me sentí há muito pouco tempo. Por diversas vezes pedí ao Senhor nosso Deus que me honrasse com a graça do discernimento, para professar sem medo minha fé, exercendo a capacidade de separar o joio do trigo. Eis que o Senhor não exitou em responder-me, inclinado para mim Seus ouvidos e agraciando-me com o esplendor da Verdade, pois embora eu viva em pecado, sei onde não mais devo ir procurar auxílio.


Meu único objetivo é mostrar a todos que é preciso ter cuidado com nossas ações, gestos e palavras, pois a quem nada conhece, nada lhe será cobrado, mas a quem muito foi dado, muito será cobrado. Irmãos, não "comamos e bebamos" nossa própria condenação.


Lembro-me de um episódio onde nos encontrávamos em um momento de oração em um retiro, e o pregador que o presidia começou a indagar-nos, a respeito da oração em línguas. Quem tinha essa prática, devia apresentar-se erguendo a mão, e quem não a tinha, dirigir-se-ia ao centro de um círculo que em breve se formaria. Claro que não erguí a mão, e permanecí na mesma posição, procurando concentrar-me em Jesus, e pedindo insistentemente o seu auxílio, pois eu estava extremamente constrangida e confusa com a visão que eu tinha diante de meus olhos, e com as palavras que ouvia. Só não saí da sala para não chamar mais atenção. E o pregador começou a proferir as seguintes palavras: "Hoje se vocês ainda não oram em línguas, passarão a orar..."


Foi muito estranho, pois hoje percebo que era como se este homem tivesse tamanha autoridade para ministrar os dons de Deus, dando-os a quem bem quiser e quando quiser. Já participei de inúmeros acontecimentos semelhantes, e eles estão sempre querendo impor-nos o dom das línguas, como se o possuíssem. As palavras ou sílabas proferidas são sempre as mesmas: shilarabaria cantara... Estranho isso, não? Para mim, oração em línguas era oração em "línguas", e não uma repetição de sílabas sem origem nem sentido.


O único pecado que não tem perdão é aquele que é cometido contra o Espírito Santo. Por conhecer essa orientação do Senhor, escondí por anos meus sentimentos e opniões sobre a RCC. Tinha medo de estar pecando. Mas hoje conheço meus objetivos, e eles se resumem no cumprimento da vontade de Deus. Quero encontrá-lo, sem orgulho e sem pretensões; sem ignorância e sem hipocrisia; "pois haverá um dia do senhor contra todo o orgulhoso e arrogante, contra todo aquele que se eleva e se engrandece."


Fui aspirante das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena durante 1 ano, e esse período muito me ajudou a ter coragem de ser quem sou, e viver minha própria espiritualidade, pois homem nenhum pode lhe dizer como orar, pois isso foi o próprio Cristo quem nos ensinou.


Em outra ocasião, também em um retiro, aconteceu o que é conhecido como baile do Espírito. A "gota d"água". É feito durante a noite. Apaga-se as luzes, tira-se as cadeiras, e alguém nos pede para fechar os olhos e não abrir por motivo algum. O ministério de música entoa canções e o "baile se inicia", com uma voz orientando-nos a imaginar que estamos "dançando com o Espírito Santo", ou com a Virgem Maria. Isso varia. Eu estive lá, e permanecí na mesma posição, resistindo insistentemente a uma força que tomava conta do meu ser de forma tão brusca que me provocava ódio. Sensação de que Deus não estava conduzindo aquilo tudo, e se não vinha d"Ele, eu não queria estar alí. Esse retiro inteiro fui alvo dos mais diversos olhares e julgamentos, por ter minha própria espiritualidade, meu próprio jeito de orar, de louvar, e não seguir o que todos fazem. Ou seja, por ser conservadora. Chegaram a pensar que eu tinha "problemas sérios", e que provavelmente estava resistindo a ação de Deus. No final, pediram-me "desculpas por qualquer coisa", pois haviam percebido que meu único "problema" era NÃO SER CARISMÁTICA.


O repouso no Espírito. Esta é das mais conhecidas práticas carismáticas, que acontece até mesmo em missas, o que para mim é um tremendo absurdo, pois nada tem a ver com a liturgia. Pessoas - normalmente duas - se aproximam de você, e começam a orar em voz alta ou sussurrando, mas de modo que se é possível ouvir o que dizem. Em alguns casos, você recebe "ajuda" para cair. Em outros, acaba acontecendo. Já aconteceu comigo duas ou três vezes. Sentí minhas pernas tremerem e não pude sustentar-me. Quando você cai, eles te amparam, te ajeitam no chão, e normalmente fazem o sinal da cruz em sua testa. Aguns dizem que saem do corpo, outros que tem visões. Mas eu fiquei plenamente consciente, ouvindo tudo ao meu redor. Um pouco estagnada, mas normal. Sentí-me descansando, o que é bastante aceitável, pois qualquer um que se põe a deitar, seja na cama, sofá ou chão sentirá o mesmo. O que posso dizer-lhes, amados irmãos, é que a queda foi real e involuntária. Quanto a ação do Espírito Santo? Bom, se tal prática realmente nos levasse à um encontro verdadeiro, e não só a uma hipótese, acho que provocaria uma transformação considerável no indivíduo, que provavelmente o levaria a mudar de vida, e não permanecer do mesmo jeito. A ação de Deus não pode ser à toa. Quando Ele nos toca, sempre ocorre uma mudança. E não é o que vemos na grande maioria dos membros da renovação carismática, que dentro da igreja são servos fiéis do Senhor, mas fora dela, praticamente nada os diferencia daqueles que ainda não conhecem a Deus. Levando em consideração que a maioria são jovens. Esta situação não está restrita aos carismáticos, mas a partir do momento que se dá um testemunho, espera-se no mínimo que o portador tente viver o que prega.


Mas a pergunta que não quer calar é: "se você caiu, como explica o que aconteceu?" Bem, é verdade, eu caí. E fiquei imaginando o que poderia ter acontecido. Comenta-se por aí sobre o poder da mente. Acho que nossos pensamentos estão estreitamente ligados aos acontecimentos. Entretanto, acredito que todas as coisas só ocorrem com a permissão de Deus. Ainda que eu pense positivo sobre algo, se Deus não o quiser, não acontecerá. Quando você está em um desses momentos de "oração", e se aproximam de você para orar, uma vez que você já conhece ou já ouviu falar do que acontece, ou então se não sabe, está observando os outros, você pressupõe que também vai cair. E você acredita. Aconteceu comigo na primeira vez. As pessoas que estavam ao meu redor proferiam palavras com tanta intensidade e em vóz tão alta que me provocava um susto. Minhas pernas já estavam tremendo pelo susto. Você sente que é como se entrassem em sua mente. É isso o que acontece. Uma manifestação emocional de uma intervenção psicológica. E quem está passando por algum problema ou dificuldade é mais vulnerável. Comigo estavam também pessoas que não conheciam, nem tinham contato com essas coisas. E elas não caíram. Essas "quedas" que tive nada mudaram em minha vida. Saí renovada de muitos desses encontros, mas não devo isso a nenhuma desssas práticas, e sim à graça de Deus que nunca deixou de se manifestar em mim só porque não sou carismática. O que é contrário àquilo que os carismáticos pensam e ensinam. Parece uma brincadeira com o Espírito Santo de Deus. Muito cuidado! Com o Espírito Santo não se brinca.


Mas os absurdos não param. Em uma determinada paróquia, que tem como pároco um padre muito famoso pude presenciar algo que me causou tamanho mal estar, que não pude permanecer no local nem mais um minuto além do necessário para concluir o objetivo pelo qual estive lá, que era assistir a uma peça de teatro. Qualquer cristão sabe que a sexta-feira santa é um dia de recolhimento, pois lembramos a crucifixão e morte de Jesus Cristo. Não é dia de festa. Quando cheguei nesta paróquia, havia uma banda em cima de um palanque enorme ministrando uma espécie de show. Mas isso não é tudo. As canções proclamavam sem a menor sombra de dúvida a ressurreição de Cristo. Isso mesmo, com todas as palavras. Sem falar que na quaresma inteira se canta e se profere aleluias e louvores, com palmas e danças nas paróquias carismáticas. Puxa vida, mas nem na quaresma?


Meu Deus, eu não concordo com isso! Eles fogem completamente da liturgia, "oram em línguas" durante a missa. O que estão fazendo com a Igreja Católica? Protestantizando! Meu Deus, é o Santo Sacrifício que estão profanando!


Ainda não acabou. Pelo que sei, com meu limitado conhecimento, o único dia em que se tem permissão para sair com o Santíssimo exposto pelas ruas é na celebração de Corpus Christi. Porém, este fato ocorreu nesta mesma paróquia de padre famoso. Sabe qual foi a desculpa que me deram quando questionei? Que o foi só em algumas ruas. Sem comentários...


Professor Orlando, tenho muitas dificuldades em minha vida espiritual, oriundas de problemas sexuais e afetivos. Isso me levou, muitas vezes, a tomar medidas desesperadas. Queria ter um encontro com Deus, não importava onde nem como. Pois embora seja como Saulo, quero um dia ser imitadora de Paulo, como ele o foi de Cristo. Então eu acreditava firmemente no que me diziam a respeito desses retiros e encontros. Fui lá procurar Deus. Mas só o encontrei dentro de mim mesma. Porque Deus se manifesta de formas diferentes para cada um. E por algum motivo, eu não o encontrava nessas práticas que presenciava. Na verdade, eu sempre procurava me recolher, ainda que meu corpo estivesse lá. E sempre me deixava tomar por um complexo de inferioridade, porque todos sentiam, menos eu. Todos acreditavam, menos eu.


Meu objetivo não é julgar quem age certo ou quem age errado. Mas quero defender a Igreja, porque ela é Santa. Somos nós, com nossos pecados e maus exemplos que manchamos sua fachada, mas seu interior permanece ileso, porque Cristo é a Cabeça. Deus me chama todos os dias, assim como chama a cada um, com uma missão diferente para cada um, a cada dia. E não me sinto digna da missão que ele me confiou. Não me sinto capaz de executá-la. Todavia, não aceito que profanem o Santo Sacrifício, não aceito que se falte com respeito ao meu Deus. Ele que é tão misericordioso para com todos.


Hoje amadurecí, e compreendo que não posso mais frequentar esses eventos, porque nada tem a ver comigo. Aliás, eu não sei mais com o que tem a ver, pois a cada dia que passa a RCC afasta as pessoas da liturgia. Parece uma anarquia, um oba-oba interminável.


Há tanto mais que eu poderia acrescentar, mas meu tempo é curto. Talvez numa outra oportunidade.


Professor Orlando, meu irmão, peço a gentileza de rezar por mim e pela minha conversão. Porque meu maior desejo é ser de Deus e só a Ele servir. Juntemos nossas forças e orações, e combatamos juntos contra o mal, como guerreiros imperfeitos que somos, mas fiéis a uma só fé.


Um abraço fraterno de uma irmã de guerra,
Vanusa Ignácio.
...e para sempre Ele seja louvado!


  • RESPOSTA
Muito prezada Vanusa,
salve Maria.
Sua carta é um testemunho que impressiona pela seriedade de seu posicionamento diante de Deus.
Você deixa bem claro o quanto a RCC é péssima às almas. Tomara que logo Deus permita que a Igreja se livre desse mau.
In Corde Jesu, semper,


Orlando Fedeli

A saga SANTA de todos os sábados...

domingo, 28 de novembro de 2010

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Salve Maria!

Vou contar para vcs a saga de todos os sábados na minha vida, do Ulisses e de nosso filho Davi.

Bem, aqui em Pouso Alegre não temos a Missa Tridentina, infelizmente, e é sobre isto que irei falar a vcs. Meu filho fez a primeira Comunhão aos 7 anos e meio e isto aconteceu a uns 2 meses atrás, desde então me dediquei a fazer tudo que fosse possível, e também o impossível para levar o Davi apenas na Santa Missa de sempre e não deixar que ele se envenenasse na missa nova!

Isto nos custa um pouco de sacrifício, porque a cidade onde tem a Missa de sempre é em Itajubá e fica a 60 km de distância daqui; mas iria mais longe se fosse necessário!

Para complicar um pouco mais estamos sem carro e dependemos ou de carona, ou de ônibus... como a Santa Missa começa as 9:00, nós saímos as 7:00 daqui de casa.

Agora com o problema de saúde do meu pai, o Ulisses quase não está podendo sair, pois ficou cuidando do restaurante para o meu pai, não tem como abandonarmos meu pai, ele está com insuficiência cardíaca e só tem os filhos, pois é separado de minha mãe (mas esta é outra história).


Então vamos eu e o Davi, todos os sábados para Itajubá em busca do que temos a convicção de ser a verdadeira Missa!


Confesso que percebo o cansaço em meu filho e algumas vezes me questionei se realmente faço o correto, até que sexta passada (26/11/), minha irmã convidou meu filho para ir com ela e o noivo a São Paulo. Então, quando fiquei sozinha com o Davi, perguntei se ele não queria ir a São Paulo com a tia, resposta:


_ "Mamãe, amanhã cedo estarei na Igreja, é dia da Missa, não posso faltar!"


Geeeeeeeeeeeeeeeeente!!! Alguém imagina a minha alegria??? Acho que somente as mães católicas, as verdadeiramente católicas para medir a minha felicidade!


Eu perguntei  o que me afligia antes: "Meu filho, vc não se cansa?"


Resposta: "Canso muito mamãe, mas não posso ficar sem esta Missa!"

É... podem os senhores bispos fazerem barreiras a reza da Missa Tridentina, podem os padres modernistas proibirem-na em suas paróquias, podem todo o inferno vir contra a mais pura verdade de Deus, que é a Missa de sempre! Mas se vc é mãe e catequiza seu filho e dá o exemplo do que é correto seguir; NADA, EXATAMENTE NADA atrapalhará Deus de reinar absolutamente na vida de sua família... e vc experimentará a alegria dos justos de coração!


Fiquemos com Deus!

* Vamos à Missa sábado porque é o dia que ela é rezada no Santuário de Nossa Senhora da Agonia.

* Coloquei a palavra SANTA no título do post a pedido do Padre Tarcísio Júnior, foi ele quem fez a Primeira Comunhão do Davi. Quem desejar ver, clique aqui!

Concílio Vaticano II - um esquema geral crítico (parte 1 de 6) - MONTFORT

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Vaidade das vaidades...

sábado, 27 de novembro de 2010

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Salve Maria!

Por muitas vezes eu postei assuntos relacionados aos hereges dentro da Igreja de Cristo... sim, e este assunto é demasiado longo e cansativo.

O que vemos é a Igreja Católica Apostólica Romana dando seus prováveis últimos suspiros... é a Noiva Agonizante como assim foi o Noivo... é a Noiva que ressussitará como assim aconteceu com o Noivo!

Mas neste tempo tão triste em que a Igreja se encontra, o que vemos é o Calvário de Cristo (Santa Missa) ter se transformado num show, numa missa afro, numa missa sertaneja, numa missa pré-balada, num desrespeito total a Deus em nome da "evangelização"! Mas será mesmo que a intenção é evangelizar??? Óbvio que não!

Em todas estas situações vemos imperar o egocentrismo e o antropocentrismo, onde Deus fica totalmente de fora, porque pouco se importa com a Doutrina passada pelo Espírito Santo nos 2.000 anos de existência da Igreja! Pouco importa o que nos deixaram os Santos! O que falaram os Santos Papas... isto pouco importa!

O que importa é o "bem estar" de cada pessoa, o que importa é que ela "participe", o que importa é que  sejamos "fraternos" com as outras denominações religiosas, mesmo que para isto a verdadeira Igreja de Cristo seja massacrada, dilacerada, pisoteada por todos os fiéis e pior, pelo Clero!

Mas não é sobre isto que quero falar, quero refletir com vcs outra situação, não menos triste e dramática!

Vejamos nossos escassos, mas ainda resistentes, bons padres... pensemos neles... fico imaginando o que se passa na cabeça de um bom padre que ainda reza a Missa Moderna!?! E por favor não vamos pensar "ah, se o Papa reza que tem demais o padre rezar???", não quero pensar e nem questionar as posições do Papa! Não agora...

Voltemos ao nosso bom padre... que lá no Altar virado para o povo toma o lugar exclusivo de Deus, mesmo ele sendo o Cristo para nós naquela hora; mas voltado para o povo não vemos o Cristo, vemos o padre fulano de tal.  Se for um bom padre, pensamos "como é piedoso", pois podemos observar cada passo que ele dá lá no Altar, podemos observar seu semblante e analisar "nossa como ama a Eucaristia!". Pobre bom padre, o que passará na cabeça dele naquela hora??? Não sei... mas posso analisar o que pensam os fiéis... "nossa como faz uma boa homilia!", "nossa como ele acredita no que faz!"...e por aí vai... e nosso bom padre está lá a mercê do golpe mais baixo de satanás, A VAIDADE!

... ah... vaidade das vaidades... o demônio soube bem colocá-la em nossas Missas.... bons tempos aqueles que nossos bons padres eram protegidos desta tentação, voltados para Deus (versus Deum), ninguém admirava aquilo que somente pertence a Deus: sua fé!

Então, triste por ver nossos bons padres nas mãos da vaidade eu peço que rezemos por eles e que Deus não tarde em restaurar definitivamente aquilo que NUNCA DEVERIA TER SIDO MUDADO: A Santa Missa!

A pastoral da camisinha

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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Por: Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa


Infelizmente não ficará sem amargas conseqüências a temerária opinião expressa pelo Santo Padre sobre a licitude em caráter excepcional do uso do preservativo pelos prostitutos, ou, para ser politicamente correto, pelos profissionais do sexo.
É verdade que as palavras do papa foram retiradas pela midia do contexto de uma longa reflexão filosófica sobre a banalização da sexualidade humana com o propósito de promover o sensacionalismo, a confusão e o escândalo.
Há várias coisas a considerar a respeito. Limito-me a algumas.
Para a tranqüilidade dos católicos, cumpre ressaltar em primeiro lugar que se trata de uma opinião do papa, emitida durante uma entrevista. Não se trata de um documento do magistério. Portanto, não se atribua tanta importância ao que não a merece. Surgiu a moda de os papas serem escritores, poderem manifestar com mais liberdade suas idéias, seu talento literário, sem ficarem adstritos às obrigações da cátedra. Escrever um livro, ainda mais em forma de entrevista, é bem mais ameno que escrever uma encíclica dogmática.
Mas na prática é preciso reconhecer que os resultados da declaração do papa serão os piores. Como se sabe, a pressão dos progressistas que reivindicam há anos uma mudança da moral católica é enorme. Querem reformular a doutrina constante da Igreja contida na encíclica Humanae Vitae de 1968.
Querem ainda reforçar e estreitar  a colaboração da Igreja com as diversas ONGS e organismos filantrópicos internacionais que atuam justamente no combate à epidemia da AIDS e no falso direito da mulher a decidir-se pelo aborto.
Além dos progressistas há as forças seculares francamente anticristãs que querem a destruição completa da Igreja. Ora, essas forças já conseguiram uma grande vitória por ocasião do Vaticano II com a liberdade religiosa, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. Pois tudo isto vem na direção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que condena qualquer discriminação por motivos religiosos. Quer dizer, não pode mais haver estado confessional católico. E hoje já se fala abertamente contra a discriminação dos homossexuais. Tudo isso é uma bola de neve que vai parar num precipício da perdição geral. Só não vê quem não quer.
Pois bem, essas forças seculares, de matriz maçônica, sentem-se incomodadas com a moral católica. Querem uma moral em harmonia com a nova religião ecumênica. Uma moral que liberte o homem dos tabus e preconceitos, como dizem os mundanos.
Está claro que a pressão sobre o papa para ceder na área da ética sexual deve ser fortíssima. Suas declarações por ocasião de sua viagem à África provocaram a ira da ONU e da União Européia.
Creio que seu livro em forma de entrevista com a sua opinião temerária sobre o uso extraordinário do preservativo tenha sido uma espécie de expediente para abrandar a ira dos tais organismos internacionais da saúde e do combate à pandemia da AIDS. E a impressão que se tem é de que o Vaticano se sente acuado pela política internacional de lideres mundiais anticristãos.
Mas o fato é que os progressistas debochados vão sentir-se autorizados a promover a pastoral da camisinha benta. Não há exagero nenhum no que digo.
Em Londres existe uma missa dos gays em paróquia católica. Nos EUA, até há pouco tempo ( não sei se continua havendo) havia um coral gay em missa dominical paroquial, não obstante os clamorosos protestos dos católicos. Por ocasião do jubileu do ano 2000, quando João Paulo II teve a infeliz idéia de pedir perdão por supostos erros cometidos pela Igreja no passado, houve um cardeal (não me lembro se de Los Angeles ou Las Vegas) que declarou que a Igreja no futuro pediria perdão aos gays por tanta intolerância (cf.  revista 30 Dias daquela época). No Brasil já houve prelado defendendo casamento civil gay, etc.
Se levarmos em consideração todos esses fatos, veremos com mais acuidade o contexto geral em que ocorre a declaração do papa em sua entrevista. Um contexto de decadência moral, de grande perigo para a Igreja e salvação das almas. (Quem pensa e fala ainda em salvação das almas?).
Para remate, desejo dizer com toda franqueza que discordo completamente da opinião do papa Bento XVI. Sua Santidade pensa que o uso do preservativo por um prostituto pode ser um primeiro passo que obrigue o homem a tomar consciência dos limites da liberdade humana (o prostituto, nas palavras do papa, seria levado a ver que não se pode fazer tudo o que se quer nesta vida). Pensar assim é pura ingenuidade.
Ao contrario, penso que aceitar o uso do preservativo, ainda que negando que seja a solução do problema, é incentivar a malandragem. É como se eu dissesse a um larápio furte com esperteza, com arte, de forma que não seja preso e sofra as conseqüências do seu ato.
Mais ainda, digo que é bom que os sodomitas contumazes sejam infectados pelo vírus. Terão quem sabe as últimas misericórdias de Deus no leito hospitalar, confessando-se e recebendo toda assistência espiritual da Igreja e salvando sua alma. Esta é a visão sobrenatural do problema. O resto é filantropia maçônica de quem não tem fé ou deixou-se enganar completamente pela demagogia da ONU e outras instituições infernais.
Anápolis, 22 de novembro de 2010.
Festa de Santa Cecília, Virgem e Mártir
*  os negritos foram meus, dona do blog.

Entendendo a questão.

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Salve Maria!

Este vídeo é simples e de uma forma bem clara, para qualquer ser humano entender,  explica sucintamente o assunto: Missa Tridentina!

O Grito Lancinante de uma Alma

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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Salve Maria!
Este livreto eu o li em 1996 e não sei para quem o emprestei, fato é que acabei por perdê-lo. Hoje passeando pelos blogs achei-o novamente 
e resolvi passar a todos vcs, vale a reflexão!

O autor da presente publicação, no original alemão, prefere conservar no anonimato, tanto a si como os demais personagens do acontecimento.

O escrito, entretanto, corre em prósperas edições, pelas mãos de leitores sempre mais numerosos. Não se pode lê-lo com indiferença ou só por curiosidade. Aos poucos a gente se vê, pessoalmente empenhado em uma valorização reflexa, a um tempo de juízo e de sentimento.
************

Clara era uma moça, falecida ainda jovem, em um Convento da Alemanha. Entre os papéis que deixou, encontrou-se o seguinte manuscrito que publicamos, na íntegra, em versão portuguesa. Os grifos e anotações são nossos.

NIHIL OBSTAT

Sancti Pauli, 1-6-1967
Sac. Joannes Roatta SSR

IMPRIMATUR

Sancti Pauli, 9-6-1967
Mons. Lafayette
Vig. Geral
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MANUSCRITO:

Eu tinha uma amiga. Isto é, entramos em contato, por causa do escritório, onde trabalhávamos uma ao lado da outra, em uma firma comercial.

Mais tarde Anita se casou e nunca mais a vi. Afinal, reinava entre nós duas, desde o começo, mais cortesia do que propriamente amizade. Por isso mesmo, pouco senti sua ausência, quando ela, após seu casamento, foi morar em um quarteirão de vilas..., muito longe de minha casa.

Quando no outono de 1937, passava minhas férias às margens do lago de Garda, escreveu-me minha mãe, pelos fins da segunda semana de setembro: “veja, Anita N. morreu! Foi vítima de um acidente de automóvel. Foi sepultada ontem em Waldfriedholf, cemitério do bosque”.

Esta notícia me espantou. Sabia que Anita nunca fora muito religiosa. Estaria preparada, quando Deus, assim de improviso, a chamou?

Na manhã seguinte, assisti a santa missa por ela, na capela particular da pensão das freiras, onde estava hospedada, rezei fervorosamente pela paz de sua alma e até ofereci a Comunhão nesta intenção.

Mas, o dia todo senti um certo mau-estar que pela tarde aumentou ainda mais. Adormeci inquieta. Enfim, fui acordada por um violento bater à minha porta. Acendi a luz. O relógio, sobre o criado, marcava meia-noite e dez. Não vi ninguém. Nenhum barulho se ouvia pela casa. Somente o das ondas do lago de Garda que se quebravam monótonas contra a murada do jardim da pensão. De vento, não se ouvia nem um sopro. E no entanto, ao acordar tinha acreditado perceber, além das batidas da porta, um rumor de vento semelhante àquele que se produzia quando meu chefe de escritório, aborrecido, me passava, de mau jeito, alguma carta.

Refleti por um instante se devia levantar-me. “Tudo histórias..., disse resolutamente a rnim mesma. — É a tua imaginação excitada depois daquele caso de morte”. Virei-me para o outro lado, rezei alguns “pater” pelas almas do purgatório e procurei dormir...

Mas, senti-me irresistivelmente invadida por uma sensibilidade interior que se tornava sempre mais lúcida e nítida, enquanto ao redor de mim a profundidade da noite desvanecia em urna transparência indefinível que dava a mim mesma e a todas as coisas circunstantes, um contorno sem espaço, fora do comum.

Levantei-me alucinada e resolvi, mais depressa do que costu­mava, descer para a capela da casa, como todas as manhãs. Ao abrir a porta do quarto, tropecei em um maço de folhas soltas de papel de carta. Apanhá-las, reconhecer a caligrafia de Anita e dar um grito foi tudo a mesma coisa.

Tremendo, segurava as folhas na mão. Compreendia que em tal estado de espírito não seria capaz de rezar nem sequer um “Pai Nosso” e além disso, subiu-me um sufocamento asfixiante.

Não encontrei melhor recurso que sair ao ar livre. Arrumei um pouco o cabelo, joguei a carta na bolsa e saí de casa. Subi por um trilho que, além da estrada principal (a famosa Gardesana), vai em direção ao monte, entre oliveiras, jardins de residências e moitas de louros.

A manhã surgia luminosa. Outras vezes, a cada cem passos, eu me extasiava diante do magnífico panorama que dali se abre sobre o lago e sobre a ilha do Garda, bela como de fada.

O insondável azul da água me recreava sempre. Contemplava admirada o cinzento monte Baldo, que, do outro lado, se eleva lentamente, desde 64 até mais de 2.200 metros acima do nível do mar. Entretanto, agora, não tinha nenhum interesse por nada disso. Após um quarto de hora de caminho, me deixei cair, mecanicamente sobre um banco que se apóia entre dois ciprestes, onde, ainda no dia anterior, tinha lido, com tanto prazer, a “Jungfer Therese”, de Federer. [1]

Considerei, então, pela primeira vez, os ciprestes como árvores dos mortos; que, no passado, nas cidades do sul, onde frequente­mente se vêm, não havia jamais suspeitado.

Agarrei a carta. Faltava a assinatura. Mas, era, com absoluta certeza, a caligrafia de Anita. Não faltava nem mesmo o grande rabisco ornamental do S e o T à francesa, que ela havia aprendido no escritório para aborrecer o Sr. Gr.

O estilo não era o dela. Ao menos, não falava como de costu­me, pois ela sabia conversar de maneira extraordinariamente amável e sorrir pelos olhos celestes, com seu belo narizinho amassado. Só quanto discutíamos assuntos de religião podia tornar-se venenosa e tomar o tom duro desta carta. (E, julgando-a assim, experimento também a amargura de seu estilo áspero!)

A sua carta do outro mundo eu a reproduzo aqui, palavra por palavra, como a li, então. Dizia assim:

“Clara — não reze por mim! Estou condenada.[2] Se lh’o comunico e lh’o refiro mais longamente, não pense que o faça a título de amizade. Nós aqui não amamos a mais ninguém. Faço-o como que forçada. Faço-o como “parte daquela potência que sempre quer o Mal e f az o Bem”.[3]  


Na verdade desejaria vê-la também chegar a este estado onde eu já me aportei para sempre.[4]


Não se aborreça com esta intenção. Nós aqui todos pensamos assim. Nossa vontade está petrificada no mal — nisto que vocês, justamente, chamam de “mal”. Mesmo quando nós fazemos algo de “bem” como eu agora, abrindo seus olhos sobre o inferno, isto não acontece com boa intenção.[5]


Lembra-se que há quatro anos nos conhecemos em...? Você tinha, então 23 anos, e estava ali havia já meio ano, quando eu che­guei. Você me livrou de alguns embaraços. Você me deu, como a principiante, bons conselhos. Mas, que quer dizer “bom”?


Eu louvava então o seu “amor ao próximo”. Ridículo! O seu auxílio derivava de pura beatice, como aliás, já o suspeitava desde aquele tempo.


Nós não conhecemos aqui nada de bom. Em ninguém. O tempo de minha juventude você o conhece. Algumas lacunas eu preencho aqui.


Conforme o plano de meus pais, para dizer a verdade, eu não deveria ter existido. “Aconteceu-lhes, porém, esta desgraça”. Minhas duas irmãs já tinham 14 e 15 anos quando eu nasci.


Antes não tivesse existido! Pudesse eu agora aniquilar-me e fugir destes tormentos! Nenhuma volúpia igualaria àquela com que deixaria a minha existência, como um vestido de cinzas que se perde no nada.[6] Mas, eu devo existir. Devo existir assim como me tornei: com uma existência falida.


Quando Papai e Mamãe, ainda jovens, se transferiram do cam­po para a cidade, ambos haviam perdido o contato com a igreja. Foi até melhor assim. Simpatizaram-se com pessoas afastadas da igreja. Conheceram-se em uma sala de bailes e, meio ano depois, “tiveram” que se casar.


Na cerimónia nupcial caiu sobre eles tanta (!) água benta que mamãe se contentava em ir à igreja, para a missa dominical, umas duas vezes por ano. Nunca me ensinou a rezar direito. Esgota­va-se nos apertos da vida quotidiana, embora nossa situação não fosse desfavorável. Palavras como: rezar, missa, água benta, igreja, eu as escrevo com uma repugnância sem igual.


Detesto tudo isto como detesto quem frequenta a igreja, e, em geral, todos os homens e todas as coisas. De tudo, com efeito, nos advém tormento. Todo o conhecimento recebido na hora da morte, toda lembrança de coisas vividas ou sabidas é, para nós, uma chama ardente.[7] E todas as lembranças nos mostram aquele aspec­to que nelas, era Graça. Que nós desprezamos. Que tormento é este! Nós não comemos, não dormimos, não andamos por nossos pés. Espiritualmente acorrentados, olhamos embecilizados “com urros e ranger de dentes”[8] a nossa vida levada aos montes, odiando e atormentados!


Quer saber? - Nós aqui bebemos ódio como água. Também uns para com os outros.[9] Sobretudo, odiamos a Deus.


Quero que você entenda. Qs santos no céu, devem amá-Lo, porque eles O vêem sem véu, na sua fulgurante beleza. Isto os torna de tal maneira felizes que nem se pode descrever. Nós o sabemos, e este conhecimento nos torna furiosos.[10]


Os homens na terra que conhecem a Deus pela criação e pela revelação podem amá-Lo. Mas não estão obrigados a isto.


Aquele que tem fé — escrevo rangendo os dentes — que refletindo, contempla Cristo na Cruz, com os braços abertos, acabará por amá-Lo. Mas, aquele de quem Deus se aproxima só na desgraça, como punidor, como justo vingador, porque foi um dia, por ele repudiado, como acontece conosco — este não pode senão odiá-Lo.[11] Com todo o ímpeto de sua pérfida vontade. Eternamente. Por força da livre resolução de ser separado de Deus: resolução pela qual, morrendo, matamos nossa alma. Resolução que nem mesmo agora retiramos nem teremos, jamais, vontade de retirá-la.


Você compreende, agora, por que é que o inferno dura para sempre? Porque nossa obstinação jamais se desligará de nós.


Constrangida — acrescento que Deus é misericordioso até mesmo conosco. Digo “constrangida”, pois que, mesmo escrevendo espontanemente esta carta, nem assim me é permitido mentir, como quereria. Muitas coisas escrevo no papel contra a minha vontade. Até mesmo o ímpeto de impropérios que gostaria de vomitar, eu o devo abafar. Deus foi misericordioso conosco não deixando esgotar na terra nossa malvada vontade como estávamos dispostos a fazer. Isto teria aumentado nossas culpas e nossas penas.


Ele nos fez morrer antes do tempo, como eu, ou fez interferir outras circunstâncias atenuantes. Agora, Ele se mostra misericordio­so conosco, não nos obrigando a aproximar-nos d’Ele mais do que o estamos, neste remoto lugar infernal. Isto suaviza o tormento.[12]


Todo passo que me levasse mais perto de Deus me causaria uma pena maior do que aquela que traria a ti o aproximar-te de uma fogueira.


Você se espantou, quando eu, certa vez, durante um passeio, lhe contei que meu pai, alguns dias antes de minha primeira comu­nhão, me havia dito: “Anita, procure merecer um belo vestidinho, porque o resto é exagero e exibição”.


Pelo seu espanto, quase fiquei envergonhada. Agota, me rio disto.


A única coisa razoável naquela exibição era que só se admitia à Comunhão, aos doze anos. Eu, naquela época, já me sentia bastan­te atraída pelos divertimentos do mundo, de modo que, sem escrú­pulos, punha de lado as coisas religiosas, e não dei grande importân­cia à primeira comunhão. Agora, nos causa furor, que muitos meni­nos façam a primeira comunhão aos sete anos. Fazemos tudo para dar a entender ao povo, que deve faltar às crianças uma instrução adequada. Elas devem, antes, cometer alguns pecados mortais. Então a partícula branca não provoca nelas um tão grande dano como quando em seus corações vivem ainda, a fé, a esperança e a caridade. Chi! Esta coisa recebida no batismo. Você se lembra, como eu já havia sustentado na terra, tal opinião.


Fiz referência a meu pai. Ele estava sempre em atrito com mamãe. Fiz alusão a eles com você, apenas algumas vezes, porque me causavam vergonha. Coisa ridícula a vergonha do mal! para nós aqui, tudo é a mesma coisa.


Meus pais nem sequer dormiam mais no mesmo quarto, eu dormia com mamãe e papai no quarto do lado, onde ele podia entrar, livremente a qualquer hora da noite. Ele bebia muito; e, deste modo acabava com o nosso patrimônio. Minhas irmãs estavam, ambas empregadas, e necessitavam, conforme diziam, do dinheiro que ganhavam. Mamãe começou a trabalhar para ganhar também alguma coisa.


No último ano de sua vida, papai maltratava muito mamãe quando ela não lhe queria dar alguma coisa. Para comigo foi sempre carinhoso.


Um dia — eu lhe contei e você ficou chocada com meu capri­cho (mas, você não ficou chocada com minhas referencias?) — um dia, ele teve que levar de volta duas vezes, os sapatos que comprou para mim, porque a forma e os saltos não eram bem modernos.[13]


Na noite em que meu pai foi atacado de apoplexia mortal, aconteceu alguma coisa que eu, por receio de uma interpretação desagradável, nunca consegui contar-lhe: foi quando fui assaltada, pela primeira vez, por meu espírito atormentador de agora.


Dormia no quarto de minha mãe. Seus suspiros regulares indicam um sono profundo. Quando de repente escuto chamar-me pelo nome. Uma voz desconhecida me dizia: “Que será se papai morrer?”


Eu não gostava mais de meu pai, desde quando maltratava minha mãe, como afinal, eu não gostava, desde aquele tempo, abso­lutamente de ninguém, mas, era afeiçoada somente a algumas pessoas que eram boas para mim. Amor sem esperança de recompensa terrena existe somente nas almas em estado de graça. E eu não o possuía. Assim, respondi à misteriosa pergunta, sem ligar de onde viesse: “mas, não morre nunca!”


Após uma breve pausa, novamente a mesma pergunta clara­mente percebida. "Mas, não morre nunca" me escapou bruscamente da boca.


Pela terceira vez fui interrogada: “Que será se teu pai morrer?”


Apresentou-se-me à mente, como papai costumava chegar em casa quase sempre embriagado, como gritava, como maltratava mamãe e como nos havia reduzido a uma condição humilhante diante do povo. Então gritei aborrecida: “E, para ele é bom”.


Então, tudo sossegou. Na manhã seguinte, quando mamãe quis arrumar o quarto do papai, encontrou a porta fechada à chave. Pelo meio-dia resolvemos arrombar a porta. Meu pai, meio vestido, jazia morto sobre a cama. Ao ir buscar a bebida na adega, devia ter-lhe acontecido algum acidente. E, já se encontrava, havia muito tem­po, adoentado.


(Teria Deus ligado à vontade de uma filha, para com a qual, aquele homem havia sido, de certo modo, bom, a ocasião para converter-se?)[14]


Marta K e você me induziram a entrar na “Associação das Moças”. Realmente, nunca ocultei que achava bastante sintonizadas com o costume paroquial, as instruções das duas presidentes, as Senhoras F. e G.


Os jogos eram divertidos, como você sabe, tive logo um lugar na diretoria. Gostava disso. Também os passeios me agradavam. Deixei-me até induzir, algumas vezes, a ir confessar e comungar. Para dizer a verdade, não tinha nada para confessar. Pensamentos e palavras, para mim, não tinham nenhuma importância. Para praticar ações grosseiras, eu não estava ainda bastante corrompida.


Uma vez você admoestou: “Ana, se você não reza mais, você se perderá”.


Eu, de fato, rezava pouco e além disso, de muito má vontade. Agora vejo que, infelizmente, você tinha razão. Todos aqueles que se queimam no inferno é porque não rezam, ou não rezaram bastante.


A oração é o primeiro passo para Deus. E continua sendo o passo decisivo. Especialmente a oração àquela que foi a Mãe de Jesus Cristo, cujo nome nós não pronunciamos nunca.[15] A devoção a Ela, arranca ao demônio inúmeras almas que o pecado poria, infalivelmente, nas mãos dele.


Continuo a narração consumindo-me da raiva, e só porque devo.


Rezar é a coisa mais fácil que o homem pode fazer na terra.[16] E, justamente, a esta coisa facílima é que Deus ligou a salvação de cada um. A quem reza com perseverança ele, pouco a pouco, dá tanta luz e fortifica-o, de maneira tal, que no fim, mesmo o pecador mais empedernido, pode definitivamente se elevar. Ainda que estivesse mergulhado na lama até o pescoço.


Nos últimos anos de minha vida não rezei mais como devia, e assim fiquei privada das graças sem as quais ninguém pode se salvar.


Aqui não recebemos mais nenhuma graça. Ao contrário, mesmo que as recebêssemos, nós, cinicamente, as rejeitaríamos. Todas as oscilações da existência terrena terminaram nesta outra vida. Entre vocês, aí na terra, o homem pode subir do estado de pecado ao estado de graça. Da graça cair no pecado. Muitas vezes por fraqueza ou talvez por malícia. Com a morte, este subir e descer acaba porque tem sua raiz na imperfeição do homem livre. Agora, já atingimos o estado final. Já com o crescer dos anos as transforma­ções se tornam mais raras.


No entanto, até à morte, se pode sempre converter para Deus ou voltar-lhe as costas. E no entanto, o homem, como que arrastado pela corrente, antes do desenlace, com os últimos e fracos restos da vontade, se comporta como estava acostumado em vida. O hábito bom ou mau, torna-se segunda natureza. Esta o arrasta consigo.[17]


Assim aconteceu também comigo. Há anos eu vivia afastada de Deus. Por isso na última chamada da graça, me decidi contra Deus.


O fato de que eu pecasse frequentemente, para mim não foi fatal, mas, fatal foi que eu não quis mais ressurgir.


Você várias vezes me admoestou para ouvir pregações e ler livros de piedade. “Não tenho tempo” era a minha resposta ordiná­ria. Não faltava mais nada para aumentar a minha incerteza interior!


Afinal, devo constatar isto: desde o momento em que a coisa já estava assim adiantada, pouco antes de minha saída da “Associa­ção das Moças”, me teria sido imensamente duro tomar uma outra estrada. Eu me sentia insegura e infeliz. Mas, diante da conversão surgia uma muralha. Você não o deve ter percebido e considerava coisa tão simples que um dia me disse: “Mas, faça uma boa confissão, Ana, e tudo retoma seu lugar”. Eu sabia que teria sido mesmo assim. Mas, o mundo, o demônio e a carne me prendiam já muito fortemen­te em suas redes.


Ao influxo do demônio eu nunca dei crédito e agora atesto que ele influi fortemente nas pessoas que se encontram nas con­dições em que me encontrava então. Somente muitas orações de outros e mesmo minhas, unidas com sacrifícios e sofrimentos, teriam conseguido arrancar-me dele. E, isto, só aos poucos. Se existem poucos obsessos externamente, há uma infinidade de obsessos internamente. O demônio não pode roubar a vontade livre daqueles que se entregam ao seu influxo. Mas, como castigo de sua, por assim dizer, apostasia metódica de Deus, este, permite que o “maligno” se aninhe neles.


Eu odeio também o demônio. No entanto, ele me agrada por­que procura arruinar vocês; ele e os seus satélites, ou espíritos caídos com ele, no princípio do tempo. Eles existem aos milhões. Vagabun­deiam pela terra como um enxame de moscas e vocês nem o perce­bem.[18]


Não compete a nós condenados a missão de ir tentar os ho­mens. Isto é tarefa dos espíritos decaídos.[19] Verdadeiramente, isto aumenta mais ainda o seu tormento cada vez que eles arrastam cá para o inferno uma alma humana. Mas, o que é que não faz o ódio?[20]


Embora eu andasse por caminhos afastados de Deus, Deus sempre me seguia. Preparava o caminho para a graça com atos de caridade natural que eu fazia muitas vezes por inclinação do meu temperamento. Algumas vezes, Deus me atraía para alguma igreja. Então, eu sentia, como que, uma saudade.


Quando cuidava de mamãe adoentada, não obstante o trabalho do escritório durante o dia e de certo modo me sacrificava de verdade, estes acenos de Deus agiam poderosamente. Uma vez, na capela do Hospital, onde você me havia levado, durante o intervalo do meio-dia, senti dentro de mim alguma coisa que teria sido necessário apenas um passo para a minha conversão: e eu chorei!


Mas, ao depois, a alegria do mundo passava de novo, como uma torrente, sobre a graça. A semente se sufocava entre os espi­nhos.[21]


Com a declaração de que a religião é questão de sentimento, como sempre se dizia no escritório, atirei ao cesto também esta moção de graça, como todas as outras.


Certa vez, você me chamou a atenção porque em vez de uma genuflexão bem feita, fiz apenas uma desajeitada inclinação, dobran­do o joelho. Você pensou que fosse preguiça. Não parecia sequer que você suspeitasse que eu desde aquele tempo, já não acreditava mais na presença de Cristo na Eucaristia.


Agora acredito, mas só naturalmente, como se acredita em um temporal, do qual decorrem os efeitos. Até então, eu estava instalada, propriamente, em uma religião a meu modo. Sustentava a opinião que entre nós, no escritório, era comum, que a alma após a morte reaparece em um outro ser. E deste modo, continuaria a peregrinar sem fim. Com isto, o angustiante problema do além era posto em seu lugar e ao mesmo tempo se tornava inofensivo para mim.


Porque você não me lembrou a parábola do rico epulão e do pobre Lázaro, em que o narrador, Cristo, manda, imediatamente, um para o inferno e outro para o céu?...[22]


Afinal, o que é que você teria conseguido? Nada, além do que conseguiram seus outros sermões de carolice!


Pouco a pouco, criei para mim mesma um deus. Bastante afastado de mim, para não ter que manter nenhuma relação com ele. Bastante vago para, conforme a necessidade, sem mudar minha religião, deixar-se assemelhar a um deus panteístico do mundo, ou então, para deixar-se poetizar como um deus solitário. Este deus não tinha nenhum céu para presentear-me e nenhum inferno para castigar-me. Eu o deixava em paz, e ele também a mim. Nisto consistia minha adoração a ele.


“A gente acredita, de boa vontade, no que nos agrada”. No correr dos anos, me conservei bastante convicta desta religião Deste modo, podia-se viver. Somente uma coisa me teria quebrado a cabeça: uma longa e profunda dor. E esta não veio!


Compreendi agora o que significa: “Deus castiga aqueles que ele ama?”[23]


Era um domingo de julho, quando a Associação das Moças, organizou uma excursão a... O passeio me teria sido bem agradável. Mas, aqueles sermões insípidos... passar por beata...


Uma outra imagem bem diferente daquela de Nossa Senhora de... estava agora no altar do meu coração. Max N. um comerciário vizinho. Pouco tempo antes, havíamos algumas vezes transado juntos. Justamente para aquele domingo, ele me havia convidado para um passeio. Aquela com que ele costumava passear estava doente no hospital.


Ele havia compreendido que eu estava de olho nele. Casar-nos, eu ainda não pensava naquele tempo. Era realmente possível, mas, ele se comportava demasiadamente delicado com todas as moças. E, eu até aquela época, desejava um homem que fosse exclusivamen­te meu. Desejava, não só ser mulher, mas, mulher única. Um certo traquejo natural, de fato, sempre tive.


(É verdade! Anita, com toda a sua indiferença religiosa, tinha algo de nobre no seu procedimento. Eu me espanto ao pensar que também pessoas bem educadas podem ir para o inferno, quando são tão mal-educadas a ponto de fugir de Deus).[24]


Naquele passeio Max se derreteu em gentilezas. E não houve lugar para conversações padrescas, como entre vocês.


No dia seguinte, no escritório, você me fez reclamações por não ter ido com vocês a..., e eu lhe descrevi meu divertimento naquele domingo. Sua primeira pergunta foi: “Você assistiu à Missa?” “— Bobinha! Como podia ir à Missa se a saída já estava marcada para as seis!” Lembra-se ainda como eu, nervosa, acrescentei: “Deus não pensa nestas minúcias, como os padrecos de vocês!”


Agora devo confessar:Deus, não obstante sua infinita bonda­de, pesa as coisas com maior precisão do que todos eles (os padres).


Depois daquele primeiro passeio com Max, fui ainda uma vez à Associação: pelo Natal para celebrar a festa. Havia alguma coisa que me convidava a voltar. Mas, internamente, me sentia já, afastada de vocês.


Cinema, baile, passeios, se sucediam sem trégua. Max e eu bri­gamos sim, algumas vezes, mas, eu soube sempre acorrentá-lo de novo, em mim.


Insuportável tornou-se-me a outra pretendente que, saindo do hospital, procedeu como uma louca. Realmente para sorte minha. Pois, minha nobre calma impressionou tanto o Max que ele acabou decidindo que eu fosse a preferida. Eu soube enchê-la de ódio falan­do friamente: por fora, positiva, por dentro vomitando veneno.


Tais sentimentos e tal procedimento preparam-me, excelente­mente, para o inferno. São diabólicos no sentido mais estrito da palavra.


Mas, por que lhe conto isto? Para relatar como me afastei definitivamente, de Deus.


Não que eu e Max, tenhamos, muitas vezes, chegado aos extre­mos da familiaridade. Eu compreendia que me teria rebaixado aos seus olhos, se me tivesse entregue, completamente, antes do tempo. Por isso, soube controlar-me. Mas, em si, toda vez que o julgava útil, estava sempre disposta a tudo. Devia conquistar Max. Para isso, nada era caro demais. Além disso, pouco a pouco nos amávamos, possuindo nós dois muitas e preciosas qualidades que nos faziam estimar um ao outro. Eu era hábil, inteligente, de agradável compa­nhia. Assim segurei Max, fortemente na mão e consegui, ao menos nos últimos meses antes do casamento, ser a única a possuí-lo.


Nisto consistiu minha apostasia de Deus: elevar uma criatura à categoria de ídolo para mim. Em nenhuma outra coisa pode acontecer isto, de modo que abranja tudo, como no amor de uma pessoa de outro sexo, quando este amor fica encalhado nas satisfa­ções terrenas.


É isto que forma o seu atrativo, o seu estímulo e o seu veneno. A “adoração” que eu tributava a mim mesma, na pessoa de Max, tornou-se para mim, religião vivida. Era o tempo em que, no escritó­rio, eu me insurgia, venenosa, contra os igrejeiros, os padres, as indulgências, contra o resmungo dos rosários e outras bobagens.


Você procurou, mais ou menos argutamente, tomar a defesa de tais coisas. Sem desconfiar, aparentemente, que no mais íntimo do meu ser, não se tratava, na verdade, destas coisas.


Eu procurava, mais que tudo, um apoio para minha consciên­cia — e tinha, então, necessidade de um tal sustento — para justificar, também com a razão a minha apostasia.


Afinal de contas, eu me revoltava contra Deus. Você não me compreendeu, considerando-me, ainda católica. Queria mesmo ser chamada assim; pagava até as taxas da igreja. Uma certa “contra-garantia” pensava, não devia prejudicar-me.


As suas respostas, pode ser que algumas vezes, tenham acertado o alvo. Para mim, nada adiantavam, porque você não devia ter razão. Por causa destas relações fictícias entre nós duas, é que foi mínimo o pesar de nossa separação, por ocasião de meu casamento. Antes do casamento confessei-me e comunguei ainda uma vez. Era obrigatório. Eu e meu marido, sobre este ponto, pensávamos do mesmo modo.


Por que não deveríamos satisfazer esta formalidade? Cumpra­mo-la também nós, como qualquer outra formalidade.


Você qualifica de indigna uma tal comunhão. Pois bem, depois daquela comunhão “indigna”, eu tive mais calma na consciência. Mas, também, foi a última.


A nossa vida conjugal transcorria, em geral, numa invejável harmonia. Em todos os pontos de vista tínhamos a mesma opinião. Até nisto: não queríamos arcar com o peso dos filhos. Realmente, meu marido, de boa vontade, teria tido um. Mais de um, não, é claro. No fim, eu soube desviá-lo também deste desejo.


Vestidos, móveis de luxo, salões de chá, passeios e viagens de carro e semelhantes distrações, me interessavam mais.[25] Foi um ano de prazer na terra aquele que transcorreu entre meu casamento e minha morte repentina.


Todo domingo, saíamos de carro ou íamos visitar os parentes de meu marido, (dos de minha mãe, agora me envergonhava). Estes flutuavam na superfície da existência, nem mais, nem menos que nós. Intimamente, é claro, nunca me sentia feliz, embora, externamente risse.


Havia, sempre, dentro de mim, alguma coisa de indeterminado que me roía. Teria querido que após a morte, a qual naturalmente, devia estar ainda muito longe, tudo acabasse.


Mas, é mesmo, como um dia, quando pequena, ouvi dizer na prática: que Deus premeia toda obra boa que a gente faz e quando não a puder recompensar na outra vida, fá-lo na terra.


Inesperadamente, recebi uma herança da tia Lotte. Meu mari­do felizmente conseguiu elevar seus vencimentos a uma notável quantia. Assim, pude organizar nova residência de maneira atraente.


A religião não refletia mais, senão de longe, a sua luz pálida, fraca e duvidosa. Os bares da cidade, os hotéis em que passávamos durante as viagens, não nos levavam, de certo, para Deus. Todos os que frequentavam aqueles lugares, viviam como nós, “de fora para dentro” e não “de dentro para fora”. Se em viagens de férias visitávamos alguma igreja, procurávamos deleitar-nos com o conteú­do artístico das obras. O clima religioso que inspiravam, especial­mente, aquelas da Idade Média, eu sabia neutralizar, criticando alguma circunstância secundária: um frade acanhado, ou mal vestido que nos guiava — o escândalo dos monges que queriam passar por santos e vendiam licores — o eterno repique de sinos para as funções sagradas só para ajuntar dinheiro...


Assim, soube, continuamente, espantar de mim a Graça, toda vez que ela batia à minha porta.


Deixava livre desabafo ao meu mau humor de modo particular sobre certas representações medievais do inferno, nos cemitérios ou em outros lugares, em que o demônio assa as almas em brasas vivas e incandescentes, enquanto seus companheiros, de longas caudas, arrastam pra cá novas vítimas. Clara! O inferno pode-se errar ao descrevê-lo, mas não se exagera nunca!


O fogo do inferno, eu sempre o ataquei decisivamente. Você sabe, como durante uma discussão a respeito, lhe coloquei um fósfo­ro diante do nariz e lhe perguntei com sarcasmo: “tem este cheiro?”" Você apagou, depressa a chama. Aqui ninguém a apaga. E, eu lhe digo: o fogo de que se fala na Bíblia não significa tormento de cons­ciência, não. Fogo é fogo! E deve-se entender literalmente aquilo que disse Ele: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo etemo!” Literalmente![26]


“Como pode o espírito ser atingido pelo fogo material?” Perguntará você.


Como pode sua alma sofrer, na terra, quando você coloca seu dedo no fogo? A alma, de fato, não queima. No entanto, que tormento experimenta o indivíduo todo! De modo análogo, nós não estamos espiritualmente ligados ao fogo, segundo a nossa nature­za e segundo as nossas faculdades. Nossa alma está privada do seu natural “bater de asas”, nós não podemos pensar aquilo que quere­mos.[27]


Não olhe com espanto para estas linhas: este estado, que, para vocês, não significa nada, me queima sem me consumir. Nosso maior tormento consiste em saber que nós jamais veremos a Deus.


Como pode isto atormentar tanto, uma vez que na terra a gente fica tão indiferente? Enquanto o punhal está sobre a mesa nos deixa indiferente. Vê-se que está bem afiado, mas, não o experi­mentamos. Enfia este punhal na sua carne e você começará a gritar de dor. Nós agora sentimos a perda Deus, antes, somente, pensáva­mos nela.[28]


Nem todas as almas sofrem em igual medida. Com quanto maior maldade e quanto mais sistematicamente uma pessoa pecou, tanto mais grave pesa sobre ela a perda de Deus e tanto mais a sufoca a criatura de que ela abusou.


Os católicos condenados sofrem muito mais do que os de outras religiões, porque estes, geralmente, receberam e desprezaram mais graças e mais luz.


Quem teve mais conhecimento, sofre mais duramente do que quem conheceu menos. Quem pecou por malícia sofre mais aguda­mente do que aquele que cai por fraqueza. Mas, ninguém sofre mais do que mereceu. Oh! Se isso não fosse verdade, de modo que eu tivesse um motivo para odiar!


Você me disse um dia que ninguém vai para o inferno sem saber e que isto teria sido revelado, por uma santa.


Eu me ri disso. Mas, depois, me escondi atrás desta declara­ção: “qual nada, em caso de necessidade, haverá bastante tempo para voltar atrás” me dizia secretamente.


E é verdade. Realmente, antes de meu inesperado fim, eu não conhecia o inferno como ele é. Nenhum mortal o conhece. Mas, eu tinha plena consciência: “se morres, vais, no mundo do além, rápida como uma flecha, contra Deus. Sofrerás as consequências”.


Eu não dei um passo sequer para trás, como já disse, porque estava dominada pelo hábito. Impelida por aquela conformidade pela qual os homens quanto mais envelhecem tanto mais agem em uma mesma direção. Minha morte foi assim.


Há uma semana — falo conforme a conta de vocês, porque, com relação à dor, poderia dizer que já fazem dez anos, que queimo no inferno - há uma semana, portanto meu marido e eu fizemos um passeio de domingo, o último para mim.


O dia surgiu radiante. Sentia-me bem como nunca. Invadiu-me um sinistro sentimento de felicidade que serpejou em mim durante todo o dia. Quando, de repente, na volta, meu marido foi ofuscado por um carro que vinha em alta velocidade.


Perdeu o controle.


“Jesus” me saiu dos lábios, como um arrepio. Não como oração, só como grito.[29]


Uma dor lancinante invadiu-me toda — comparada com a de agora, uma coisa à toa. Logo, perdi os sentidos.


Estranho! Naquela manhã surgiu em mim de modo inexplicá­vel este pensamento: “poderias ainda uma vez ir à missa”. Insistente como um pedido.


Claro e resoluto o meu “não” partiu o fio dos pensamentos: “"com estas coisas é preciso acabar de uma vez. Arco com todas as consequências”. Agora as sofro.


Isto que aconteceu após minha morte, você, já o saberá. A sor­te de meu marido, de minha mãe, tudo o que aconteceu a meu cor­po, o desenrolar de meus funerais, são conhecidos por mim em todos os seus pormenores, mediante conhecimentos naturais, que nós temos aqui.


O que afinal acontece na terra, nós só o sabemos confusamente. Mas aquilo que de alguma maneira nos atinge de perto, nós o conhecemos. Assim, vejo também onde você passa seu tempo.[30]


Eu mesma me acordei, inesperadamente, da escuridão, no instante de minha morte. Vi-me como que inundada por uma luz deslumbrante. Foi no lugar mesmo onde jazia meu corpo. Aconteceu como em um teatro, quando na sala, de repente, se apagam as luzes, o pano de boca se rasga rumorosamente, e se abre uma cena inespera­da, horrivelmente iluminada. A cena de minha vida. Como em um espelho minha alma se mostrou a mim mesma. As graças desprezadas da juventude até ao último “não” diante de Deus. Eu me senti como um assassino diante do qual, durante o processo judiciário, é levada sua vítima desfalecida.


—Arrepender-me? Nunca![31]


—Envergonhar-me? Tão pouco!


Eu não podia, porém nem sequer resistir-me diante dos olhos de Deus por mim rejeitado. Não sobrava senão um recurso: a fuga. Como Caim fugiu do cadáver de Abel, assim, minha alma foi impeli­da para longe daquela vista de horror. Isto foi o juízo particular. O juiz invisível disse: “afasta-te de mim!” Então minha alma, como uma sombra amarela de enxofre precipitou no lugar do eterno tormento.[32]


Assim, terminava a carta de Anita, procedente do inferno. As últimas palavras eram quase ilegíveis, de tão deformadas que estavam, A própria carta se encinerou nas minhas mãos.
************

De repente — que acontecia?

Na rude linguagem daquelas linhas que tinha acreditado ler, ressoa um suave toque de sinos.

Acordei de sobressalto. Estava ainda na cama, em meu quarto![33] O clarão vermelho da manhã penetrava pela janela. Da paróquia se ouvia o toque da Ave-Maria. Não sabia capacitar-me do quanto havia acontecido!

Nunca senti tanto o conforto da saudação angélica como após um tal retorno à serenidade da manhã. Recitei, lentamente, as três Ave Marias. Então, tornou-se claríssimo: “A Ela te deves manter segura, à bendita Mãe do Senhor; deves honrar filialmente a Maria se não queres ter a sorte de uma alma que não verá jamais a Deus”.

Tremendo ainda, pela assustadora noite, vesti-me depressa e corri pelas escadas abaixo, para a capela da casa.

Meu coração batia até na garganta. As poucas hóspedes ajoe­lhadas mais perto de mim, me reparavam. Talvez, pensasssem, que eu estivesse tão excitada porque havia corrido pelas escadas.

Uma velha e bondosa senhora de Budapeste, já experimentada pelo sofrimento, fraca como uma criança, míope, mas perita nas coisas espirituais e fervorosa no servir a Deus, à tarde no jardim, me disse sorrindo: “Menina, Deus não quer ser servido pelo trem expresso!”

Mas, em seguida percebeu que alguma outra coisa me havia agitado e ainda me agitava. Tranquilizando-me, acrescentou:

“Nada te perturbe...” — você conhece o verso de Santa Teresa?

"Nada te perturbe.
Nada te amedronte.
Tudo passa,
Deus não se muda.
A paciência
Tudo consegue.
A quem possui Deus
Não falta nada:
Deus só basta”[34]

Enquanto ela sussurrava estes versos, devagar e sem nenhuma tonalidade instrutiva, me pareceu que eu lia na minha alma: – “Deus só basta!”[35]

Sim. Ele só me deve bastar aqui embaixo e no além. Eu quero, um dia, possuí-lo no além, mesmo que me custe aqui muitos sacrifí­cios. Não quero ir para o inferno.
************

A pessoa que fez a presente publicação no original alemão, prefere conservar-se a si mesma, e os demais atores do acontecimento, na reserva do anonimato.

O escrito, entretanto, corre em prósperas edições, pelas mãos dos leitores sempre mais numerosos e, fere o espírito, de comoção, de piedade e de estremecimento.

Suas páginas vivas e espantosas, encerram uma experiência, muito humana e comum da vida terrena, em que se defronta grande parte da complexa religiosidade contemporânea. Ao mesmo tempo, levantam o véu do mais fascinante e terrível mistério que nos espera.

Não se podem ler com indiferença ou só por curiosidade; a gente se vê, no fim, empenhado, pessoalmente, em uma revalorização reflexa de juízo e ao mesmo tempo de sentimento.

No drama que esta testemunha faz reviver, vem expressa, embora de maneira estritamente pessoal, toda a realidade humana e divina em que está se atualizando e desenvolvendo a nossa existência.

Sentimo-nos honrados em oferecer à sensibilidade dos leitores brasileiros este breve documento de vida.

Roma, março de 1952
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[1] H. Federer (1866-1928), sacerdote, romancista popular; “Jovem Teresa”. 1913.
[2] Muitas vezes os homens, enganados pelo Maligno, se desvaneceram em seus pensamen­tos e mudaram a Verdade de Deus em mentira, servindo à criatura mais que ao Criador ou, vivendo e morrendo SEM DEUS neste mundo se expõem a CONDENAÇÃO ETER­NA. (Conc. Vat. II Lg 16)
[3] Palavras de Meflstofele em “Fausto” de Goethe.
[4] Os condenados quereriam que todos os bons se condenassem. – Santo Tomás de Aquino – Summa Teológica (S. Th) Suplemento (Spl) Q 98, a. 4.
[5] Eles têm uma vontade deliberativa. Tal vontade neles é somente má! (S. Th. Spl. Q. 98, a. 1, r)
[6] O não existir... enquanto libertaria de uma vida de punição e de infelicidade... seria me­lhor para os condenados do que ser infelizes..., e assim preferiram não existir. (S. Th. Spl. Q. 98, a. 3, r)
[7] Não há nada nos condenados que não lhes seja matéria e motivo rio pena. Assim (por exemplo) quando voltam a sua atenção para coisas conhecidas na vida. (S. Th. Spl. Q. 98, a. 7, r)
[8] ...e os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá CHORO E RANGER DE DENTES. (Mt 13, 41)
[9] Nos condenados domina um ódio perfeito. (S. Th. Spl. Q. 98, a. 4, r)
[10] Antes do dia do juízo, os condenados não veem os bem-aventurados a ponto de conhecer a natureza da sua glória, mas sabem somente que eles se encontram em uma glória inesti­mável. (S. Th. Spl. Q. 98, a. 9, r)
[11] ...os condenados tem ódio a Deus porque Ele os castiga e lhes proíbe aquilo que esta­ria de acordo com a própria maldade de sua vontade. Por isso o consideram somente co­mo punidor e proibidor". Portanto, conhecendo a Deus nos efeitos da sua justiça, isto é, na sua punição, odelam-no como odeiam os castigos que eles suportam. (S. Th. Spl. Q. 98 a. 8 ad 1)
[12] Na condenação dos réprobos aparece a misericórdia de Deus enquanto Ele os cas­tiga menos do que mereceriam. (S. Th. I Q. 21 a. 4 ad 1)
[13] Os detalhes precedentes sobre o pai de Anita e o episódio seguinte são fatos comprova­dos.
[14] É um parêntesis do manuscrito.
[15] O nome de Maria, Mãe de Deus, não é pronunciado. Atestado pelos exorcistas em várias ocasiões. Em Fátima, Ela mostrou às crianças o horror do inferno e lembrou a arma poderosa que o cristão tem – a reza do Santo Rosário. (13 de julho 1917)
[16] Vós, portanto, deveis rezar assim: “Pai nosso, que estais no céu...” (Mt 6, 9)
[17] Porque onde está o teu tesouro, aí também estará o teu coração. O olho é a lâmpada do corpo... (Mt 6, 21)
[18] S. Pedro escreve: “Irmãos sede sóbrios e vigiai, porque o vosso adversário, o demônio, vos circunda como um leão que ruge procurando a quem devorar” (1 Pedro 5, 8). O rugido não significa que satanás faça muito barulho com suas tentações, mas, ao contrário, ex­prime a avidez com que ele procura perder-nos.
S. Paulo escreve aos Efésios(6, 11-12): “Revesti-vos com a couraça de Deus, para poder enfrentar as insídias do demónio, pois que não é a nossa luta com o sangue e com a car­ne (contra os homens), mas, contra os Principados e as Potestades, contra os dominadores do mundo das trevas, contra os espíritos malignos do ar”. Aqui, se diz claramente que o maligno nos hostiliza com inúmeros satélites provenientes dos vários coros dos an­jos decaídos (Principados, potestades etc). (Conf. S. Th. l Q, 63, a. 9, ad 3). O demônio não deveria chamar-se: “"dominador do mundo” se seu influxo na terra não fosse podero­so.
[19] Não compete aos réprobos levar à ruína os outros, este é ofício próprio do demônio. (S. Th. Spl. Q. 98, a. 6, ad 2)
[20] Quanto mais aumenta o número dos danos tanto mais cresce o tormento de cada um. Es­tão porém tão cheios de ódio e de inveja, que eles preferem sofrer mais em companhia de muitos, do que sofrer menos, sozinhos. {S. Th. Spl. Q. 98, a. 4, ad 3)
[21] A semente que caiu entre espinhos representa aqueles que ouvem, mas são sufocados pelas preocupações, pelas RIQUEZAS e pelos PRAZERES da vida. (Lc 8,14)
[22] Jesus nos lembra bem claramente a sorte dos condenados. (Lc 6,19-31)
[23] Hbr. 12, 6 – Prov. 3,12.
[24] Anotação do manuscrito.
[25] Larga é a porta e ESPAÇOSO O CAMINHO que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela. (Mt 7,13)
[26] ...apartar-nos para o fogo eterno... (Conc. Vat II LG 48)
[27] O logo do Inferno atormenta o espírito impedindo-o de seguir a sua vontade. Este, (o es­pírito) não pode agir onde quer e como quer. (S. Th. Spl. Q. 79, a. 3 r.)
[28] Estar separado de Deus é um castigo tão grande quanto grande é o próprio Deus. (Tre­cho atribuído a S1o Agostinho).
[29] Jesses - corruptela da Jesus, usado frequentemente entra algumas populações de lín­gua alemã.
[30] As almas dos que morreram não tem um conhecimento certo e distinto de todas as coisas naturais, mas, somente, um conhecimento genérico e confuso. (S. Th. I Q. 89, a. 3 r.)
[31] Os maus propriamente não se arrependem dos pecados, porque estão presos ao pecado com uma vontade pérfida. Porém, sentem desprazer enquanto são atormentados pela pe­na do pecado. (S. Th. Spl. Q. 98, a. 2 r.)
[32] Hervé - Praelect Theol. Dogm. 12a edição – (Paris, 1934), IV n°694: "É certo, e confor­me Suarez até artigo de fé, que o Inferno é um lugar determinado". A eternidade das pe­nas do inferno é verdade de fé; talvez, a mais terrível de todas. Conf. na Escritura Sagra­da: Mal 25, 41 e 46; 2ª.Tess. 1, 9; Juízes, 5, 13; Apoc 14, 11 e 20, 10. Todos trechos in­confutáveis em que a palavrinha “eterno” não se pode mudar em "longo". Se não fosse permitido ilustrar esta verdade de fé com um fato particular, nem sequer o Divino Salvador teria narrado a parábola do rico Epulão e do pobre Lázaro. Lá ele fez, precisamente o mesmo que se conta aqui: descreveu a grandes pinceladas o inferno e como se vai para lá. Não por espírito de sensacionalismo, mas impelido pela mesma intenção que deu ori­gem a esta publicação: intenção expressa naquelas palavras: "desçamos vivos ao inferno, para não descer lá morrendo". Esta expressão é uma paráfrase do v. 16 do Salmo 54: "Caia a morte sobre eles e desçam vivos aos Infernos". "Descendant viventes ne descendant morientes", que se encontra em Gullaume de Saint-Thirry, meditativae orationes, Med. VI, Ed. M. M. Davy, Paris 1934, pág. 156 -160 e na carta ad fratresde Monte Del, do mesmo autor, Ed. M. M. Davy. Un traité de la vie solitaire pág. 79, Paris, 1940, obra outrora atribuída a São Bernardo.
[33] De Deus pode depender, alguma vez, a causa espiritual do sonho. Ele pelo ministério dos Anjos revela algumas coisas aos homens mediante os "sonhos". De fato também na agiografia, frequentemente, o sonho serve de estímulo providencial para obras boas e gran­des. (S. Th. Il-ll Q. 95, a. 6)
[34] Obras de Santa Teresa d'Avila da autoria do P. Camillo Mella S. J. (Modena, 1884, t. VII, pág. 200).
[35] Procurai, portanto, primeiro o Reino de Deus e sua justiça. (Mt 6, 33)

Fonte: Aqui!