Da liberdade religiosa ao escândalo da pedofilia.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

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Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

(do site Santa Maria das Vitórias)



O escândalo da pedofilia tem levado, como é natural, as pessoas a indagar pela causa do problema. A ignorância ou a má fé leva muitos a atribuir semelhante perversão ao celibato eclesiástico. Basta recordar que tal crime ocorre em todos os setores da sociedade e com maior freqüência no próprio âmbito doméstico para repelir como absolutamente falsa tal explicação do problema.

Estou persuadido de que se podem apontar duas causas ou ao menos duas condições favoráveis à propagação do vício da pedofilia na sociedade moderna. A primeira é a chamada cultura da liberdade. A liberdade, hoje, é idolatrada, é o bem maior, não se subordina a nenhum fim. Em tal cultura da liberdade o direito é considerado apenas como a técnica de conciliar os arbítrios dos “cidadãos livres”. O direito não tem nada que ver com a moral. É apenas um instrumento para garantir a liberdade individual. A moral é só uma questão de cultura. E a ordem pública, assegurada pela lei positiva, consiste apenas na harmonia das relações sociais, sem um fundamento na lei natural.

Ora, essa idolatria da liberdade, que deita raízes no livre exame do protestantismo e se consolidou através do iluminismo e da Revolução Francesa, seduziu muitos espíritos católicos. São os católicos liberais condenados por Gregório XVI e Pio IX. O próprio Vaticano II não ficou imune a tal mentalidade. Queimou incenso à deusa da liberdade na declaração Dignitatis Humanae, dizendo que ninguém pode ser impedido de professar sua religião em privado ou em público, contanto que não seja perturbada a ordem pública. E tal direito à liberdade religiosa assiste igualmente aos ateus em sua profissão pública do ateísmo. E não bastasse isto, houve diversas declarações solenes de altas autoridades eclesiásticas dizendo que o VII teve por fim adaptar a Igreja aos valores do iluminismo e ao mundo nascido da Revolução Francesa.

Tudo isto é um delírio, dizia Gregório XVI. Para entender o problema da liberdade, os tratadistas católicos distinguiam (ao menos, antes do VII) entre liberdade psicológica (livre arbítrio), liberdade física (ausência de coerção) e liberdade moral. Por exemplo, fulano não quer trabalhar. Tem para tanto liberdade psicológica, nada o coage, mas não se pode dizer que tenha o direito de não trabalhar, porque a lei moral o obriga a ganhar o seu próprio sustento.

Pois bem, aplicados esses conceitos ao problema da liberdade de cultos, vê-se com clareza meridiana como é falso o princípio moderno da liberdade religiosa, consagrado pelo direito constitucional moderno e inacreditavelmente canonizado pelo Vaticano II.

No século XIX dois grandes católicos brasileiros tiveram o mérito de tratar da questão com maestria. São eles o bispo do Pará D. Macedo Costa e o filósofo José Soriano de Sousa. Combateram a separação entre a Igreja e o Estado e a liberdade dos cultos, explanando os princípios perenes em que se fundamenta o direito público da Igreja como decorrentes da reta razão que não aceita pôr em pé de igualdade a verdade e o erro. Diz D. Macedo Costa: “Ora, tal é o catolicismo: religião divina, a única que se demonstra, religião perfeitamente lógica, coerente, harmônica, sujeitando nosso espírito á fé, mas à fé razoável. Logo, a religião católica deve excluir e condenar toas as outras. Logo, o católico não pode admitir a liberdade dos cultos.[1]”

Admiráveis palavras de um bispo realmente católico. Coisa raríssima em nossos dias. No entanto, o mais importante é que D. Macedo Costa explica que o respeito às convicções alheias implica a sua veracidade, não basta a sinceridade.[2]

De maneira que, quando se diz, por exemplo, que a Igreja Católica respeita as religiões da humanidade como respostas, ainda que em graus diversos, ao Deus que quer a salvação de todos os homens, há o grave risco de ter por mais ou menos verdadeiras e boas todas as religiões. O certo, o tradicional, aquilo que a Igreja sempre ensinou, é que, em princípio, o culto público das religiões falsas deve ser reprimido. Por uma questão de prudência, podem-se tolerar os cultos falsos para evitar um mal maior à sociedade, ou por caridade, em deferência à sinceridade das convicções mais íntimas dos seus adeptos, tolerar-lhes o culto privado. Mesmo porque o ato de fé é livre e não se pode forçar ninguém a crer. Mas jamais se pode formular um juízo positivo, “otimista”, sobre as religiões falsas e querer estabelecer com elas uma confraternização para o bem da humanidade. Isto não é católico, é ideal maçônico propagado pela ONU em sua declaração dos direitos humanos e infelizmente presente na Igreja pós-conciliar.

Por sua vez, Soriano de Sousa em seu opúsculo A religião do Estado e a liberdade dos cultos faz ver que a possibilidade de aderir a uma religião falsa não é da essência da liberdade mas defeito. Deus e os anjos são livres e impecáveis.[3] Deve-se distinguir, portanto, a liberdade psicológica de aderir a um culto falso, como conseqüência da imperfeição do livre arbítrio debilitado pelo pecado original, e o direito, como aquilo que é justo e correspondente à verdade e ao bem.[4]

Que tem que ver que ver tudo isso com o escândalo da pedofilia? Tem muito. Por nauseabundo que seja, muito pedófilos reivindicam hoje o seu “direito” dizendo que não perturbam ninguém, que não forçam ninguém, que tudo é uma questão de “cultura”, que um adolescente pode sentir prazer com um adulto. Dizem que muitas vezes são vítimas da extorsão de moleques. Dizem também que, assim como a psiquiatria deixou de considerar a homossexualidade uma patologia, assim no futuro há de considerar a pedofilia como uma opção normal, visto que um adolescente pode sentir tal atração. Quem poderá impedi-los se não perturbam a ordem pública? Sobretudo, se inventarem (ou ressuscitarem) uma religião que os envolva em uma mística orgiástica!

Realmente, do jeito que as coisas caminham, parece que não estamos longe disso. Haverá até psicotrópico para tratar os “intolerantes” que tenham dificuldade de adaptação à cultura da liberdade.

Some-se a tais erros doutrinários de uma falsa noção de direito e liberdade a lama da pornografia e do erotismo invadindo quase todos os ambientes; some-se o elogio da psicanálise nas universidades católicas; acrescente-se ainda a vulgaridade dos costumes, a familiaridade inconveniente nas relações humanas; some-se a omissão dos pais na educação dos seus filhos; mencione-se ainda a indecência dos trajes; recorde-se a nova moral conjugal que nega a hierarquia de fins do matrimônio e ver-se-á então que não poderia haver caldo de cultura melhor para a grassar o vicio até nos recintos mais sagrados. Toda a sociedade está vulnerável, depois de abatidas as muralhas das instituições tradicionais. Em muitas paróquias hoje não há diferença de clima entre Copacabana e as “celebrações”. Careta e hipócrita é quem reclama.

Como se vê, o mundo é perverso e hipócrita atribuindo à Igreja um vício que no fundo ele fomenta e aplaude. Mas para que a Igreja se veja livre dessa nódoa vergonhosa é preciso reconstruir as muralhas da cidade católica, fundada na doutrina do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.



Anápolis, 6 de abril de 2010

A BELEZA FASCINANTE DA CASTIDADE!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

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RECONHECER E FAZER DESCOBRIR
A BELEZA FASCINANTE DA CASTIDADE
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Uma privação
A castidade costuma ser definida como algo negativo. É a qualidade daquele que se abstém de relações sexuais antes ou fora do casamento. É a virtude dos que evitam olhares libidinosos, dos que rejeitam os divertimentos mundanos, dos que se privam de seguir as modas licenciosas. É também a virtude daqueles que renunciam ao casamento “por causa do Reino dos Céus” (Mt 19,12) a fim de servirem a Deus com o coração indiviso (1Cor 7,32-34).
Abstenção, renúncia, privação. Tais palavras indicam uma lacuna, uma falta, um vazio. Não é errado usá-las para definir a castidade. Mas não se pode parar nelas. Pois, que sentido tem exaltar um vazio? Elogiar uma privação? Glorificar uma falta? Não seria mais sensato preencher o vazio? Satisfazer à privação? Suprir a falta?
Ao falar da castidade como algo que se deixa de fazer, como algo de que se abstém, como algo a que se renuncia, é preciso acrescentar o motivo de tal não-fazer, de tal abstenção, de tal renúncia. É preciso ainda, além dos motivos, falar dos frutos de tal atitude. Em suma: é preciso falar do que a castidade tem de positivo, nos seus motivos e nos seus efeitos.
De outro modo, a castidade se apresentaria como uma atitude louca, uma espécie de neurose, sem explicação lógica, mas puramente psicológica: um mecanismo de fuga, uma frustração, como costumam dizer os psicanalistas.

Nem toda privação é má
A falta de olhos em um homem é digna de elogios? Um poeta exaltaria a falta de uma perna consumida por uma gangrena? Alguém louvaria a falta de comida no estômago ou a ausência de cordas vocais em uma garganta? A privação, por si só, não parece ser atraente.
No entanto, a filosofia ensina-nos que nem toda privação é má. Má é a ausência de uma perfeição devida. Assim, é mau que um homem não tenha olhos, uma vez que os olhos são devidos à natureza humana. Mas não pode ser chamada de “má” a ausência de olhos na pedra, uma vez que a pedra, por sua natureza inerte e inanimada, não requer a presença de olhos. Tal perfeição, por não ser devida à pedra, pode estar ausente sem que isso constitua um mal.

Privação de algo indevido
Assim, a castidade, embora signifique privação, não é um mal. O casto não se priva de algo devido. Priva-se de algo indevido.
Alguém aqui poderia replicar: não é devido à natureza humana que o homem e a mulher se sintam atraídos? A atração entre os sexos não é algo natural, que a castidade repele de modo artificial? Não seria um mal que os jovens reprimam suas inclinações naturais, abstendo-se de relações sexuais e, mais ainda, de tudo quanto possa causar o desejo delas?
A resposta é simples. A natureza humana não é apenas corpórea, mas também espiritual. Se é natural ao homem o instinto que o leva a alimentar-se, a fugir dos perigos, a aproximar-se de alguém do outro sexo, também é natural que tais instintos sejam regulados pela razão. Pertence à natureza do homem não se transformar em joguete de seus instintos, mas controlá-los racionalmente. Esse controle implica privação. Mas privação de algo indevido.
O motorista, ao controlar um automóvel, contraria a tendência natural do veículo de seguir em direção ao abismo, o que ocorreria se ele não girasse o volante. A mudança de trajetória, contrariando a tendência dos corpos de conservarem a direção de seu movimento, implica uma privação. Mas não se trata de uma privação de algo devido. Tal privação não é má. Ao contrário, ela é um bem. Pois, ao se privar de andar em linha reta em direção ao abismo, o automóvel segue a estrada e é capaz de chegar ileso ao destino desejado pelo condutor.
O casto, ao privar-se da relação sexual antes do matrimônio, está privando-se de algo indevido. Com efeito, se ele é solteiro, o corpo alheio ainda não lhe pertence. Unir-se a esse corpo seria uma usurpação, uma falta contra a justiça. O casado que, fiel ao compromisso conjugal, rejeita unir-se ao corpo de um terceiro, que não é seu cônjuge, está rejeitando algo indevido. Desse modo, a castidade, longe de ser um mal, é um bem: ela preserva o namoro, prepara o matrimônio, solidifica a família, enobrece o ser humano.

Sem desprezo pela sexualidade
Castidade não significa, nem pode significar menosprezo pelo matrimônio ou pela união física entre os cônjuges. Justamente por dar um grande valor a essas coisas, o casto não admite que o instinto sexual aja nelas cegamente, sem ser controlado pela razão.
Não é apenas o instinto sexual que precisa ser controlado. Também o instinto alimentar, que existe para assegurar nossa sobrevivência, precisa de um controle. Embora o homem sinta fome, sabe que deve esperar a hora da refeição para comer. Sabe que não pode apoderar-se de uma comida que não é dele, por mais apetitosa que seja. E sabe que deve comportar-se com boas maneiras estando à mesa. A virtude que regula o comer e o beber chama-se sobriedade. A sobriedade, no entanto, embora digna de admiração, não costuma despertar o fascínio e o encanto que desperta a castidade.
Por quê?
Uma e outra não são partes da temperança?
Uma e outra não são virtudes que regulam instintos relacionados com a vida humana: o instinto alimentar (sobriedade) e o instinto reprodutor (castidade)?
O que o casto tem de especial em relação ao sóbrio, que guarda moderação no comer e no beber?
Por que apenas a castidade - e não a sobriedade - costuma ser objeto de escárnio para o mundo?
Por que aquele que se abstém de bebidas alcoólicas e come moderadamente não recebe, nem de longe, a zombaria que costuma receber o que valoriza a virgindade e a fidelidade conjugal?

A castidade relaciona-se com a transmissão da vida
Porque, embora o instinto alimentar seja relacionado com a vida, ele fica restrito à vida de um indivíduo. O instinto sexual (ou reprodutor) relaciona-se com a vida da espécie humana. Transmitir a vida a outro ente, comunicando-lhe a natureza humana, chama-se gerar. O instinto sexual está intimamente ligado à geração: à transmissão da vida.
Transmitir a vida a outrem é mais do que conservar a própria[1]. Por isso a virtude da castidade, que regula o instinto reprodutor, é maior do que virtude da sobriedade, que regula o instinto alimentar.
A sacralidade da vida é entendida até pelos mais simples grupos humanos. Os nativos da Polinésia usam a palavra tabu para exprimir as coisas sagradas, intocáveis. Para os polinésios, tabu compreende a vida humana (que ninguém tem o direito de tocar), a geração da vida humana e a união sexual em que a vida humana é gerada. Tudo o que se refere à vida é tão sagrado quanto ela. A sexualidade, portanto, é sagrada.
A belíssima palavra tabu tem um significado positivo. Não se trata de uma proibição irracional. Trata-se de uma valorização de algo que supera o próprio homem: o poder de transmitir a vida. Trata-se do respeito e da veneração por algo que, embora confiado ao homem, não está sujeito aos seus caprichos: o poder de gerar, de procriar, de cooperar com Deus na criação de um outro ente humano. Lamentavelmente a palavra tabu chegou ao nosso idioma com o significado pejorativo que lhe atribuiu a ideologia de Freud.
É intuitivo que a vida é sagrada. Também é intuitivo que a família, em que ela é gerada e educada, deve ser sagrada[2]. Da mesma forma deve ser sagrada a união sexual, que dá origem à vida. Sagrado deve ser também o matrimônio, em que o homem e a mulher constituem uma comunidade de amor própria para a transmissão da vida. Por fim, deve ser sagrado o namoro, em que o rapaz e a moça se preparam para assumirem esse compromisso perpétuo de amor, fidelidade e fecundidade.

A castidade, sinal de contradição
Compete à castidade zelar pela sacralidade das coisas que mais têm a ver com a vida: o namoro, o matrimônio, a atração entre os sexos, a união sexual. Por isso a castidade é apta a atrair, seja o fascínio dos que respeitam a vida, seja o escárnio dos que exaltam a morte.
É difícil permanecer neutro diante da castidade. Ela exige uma opção. E essa opção acaba por ser apaixonada. Os castos defendem a castidade com todas as fibras e não querem largá-la por nada deste mundo. Os mundanos odeiam a castidade com todas as suas forças e não se cansam enquanto não esmagarem o último casto que encontrarem pela frente. A castidade é, de fato, um sinal de contradição (Lc 2,34). Quem não está com ela, está contra ela (Mt 12,30).

A castidade, virtude sobrenatural
Note-se que, até agora falamos da castidade como virtude natural. Nenhum menção fizemos à graça sobrenatural, que Cristo conquistou para nós pelo preço de seu sangue (1Cor 6,20). Também não falamos do Espírito Santo que, como fruto da redenção de Cristo, passou a habitar em nosso corpo como em um templo (1Cor 6,19).
Se todo homem tem o dever de ser casto, pelo simples fato de ser racional, o cristão tem um motivo a mais para cultivar a castidade: ele é templo do Espírito Santo. Seus instintos devem ser governados, não apenas pela razão natural, mas pela graça sobrenatural.
“Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta” (Gl 5,25).
Para o cristão, a vida humana, que é sagrada por ser criada por Deus, é sagrada também por ter sido “recriada” por Cristo. Ele deu a sua vida por nós. Ele veio para que tivéssemos vida, e vida em abundância (Jo 10,10). E a vida que ele prometeu dar-nos é a mesma que recebeu do Pai: “Como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim aquele que me come, viverá por mim” (Jo 6,57). Ele prometeu habitar naquele que cumpre sua palavra: “Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará. E viremos a ele, e nele faremos morada” (Jo 14,23). Aquele que foi batizado em Cristo, revestiu-se de Cristo (Gl 3,27). Pode dizer, com São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Para nós, cristãos, a vida humana, elevada pela graça à participação com a vida divina (2Pd 1,4), tem um valor de eternidade. Assim, temos maior razão para respeitarmos a vida. E, em consequência, temos maior razão para valorizarmos a castidade.

O fascínio da castidade
Por referir-se a algo sagrado, como a vida, a castidade tem algo de misterioso e fascinante. O rosto de um casto, longe de parecer deformado, mutilado, é um rosto irradiante. Seu brilho fascina, sua luz causa atração em muitos, ofusca e incomoda a outros.
Como uma casa onde não há sujeira não é uma casa incompleta,
Como o corpo onde não há doenças não é um corpo mutilado,
Como uma máquina onde não há movimentos descontrolados não é uma máquina defeituosa,
Assim o casto, em quem não há os desvios e excessos deste mundo, não é alguém frustrado. Não é pobre, mas rico. Não é triste, mas alegre. Não é vazio, mas cheio. Seus olhos indicam que ele vê e entende coisas que estão ocultas aos impuros. Ao contemplarmos os olhos de um casto, percebemos o que quis dizer Jesus ao afirmar:
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).
Os castos, que renunciam aos filmes imorais, que vigiam os olhos para não serem surpreendidos por uma imagem obscena em uma banca de jornais, conservam-se puros para verem Aquele que é.
E desde agora, embora ainda não o vejam, já o entendem de maneira imensamente mais profunda do que os outros.
Há uma co-naturalidade afetiva entre a castidade e o conhecimento de Deus, que levava Pascal a dizer: “Mostre-me um casto que negue a existência de Deus e eu acreditarei nele”[3].
Com isso, o filósofo francês dizia que o ateísmo é um privilégio dos impuros, assim como a visão de Deus será um privilégio dos puros.

Prova de amor
Os namorados, que se preparam para o casamento, podem e devem dar prova de amor um ao outro. Mas como o amor se prova? Prova-se pela castidade. Não é verdadeiro o amor que não é casto.
Durante o namoro, a castidade manifesta-se pelo tempo, pela distância e pelo sacrifício:
- pelo tempo: o verdadeiro amor sabe esperar;
- pela distância: o verdadeiro amor sabe separar os corpos, a fim de unir as almas;
- pelo sacrifício: o verdadeiro amor sabe abster-se de prazer por causa do outro.
Essas exigências da castidade, justamente por serem tão contrárias ao que prega e faz o mundo, apresentam-se aos jovens como um desafio, uma meta a ser atingida. E os jovens gostam de desafios. É próprio da juventude o repúdio à mediocridade e o desejo de fazer algo diferente.
Ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, os jovens costumam ser muito receptivos a uma pregação sobre a castidade. Espantam-se com o que ouvem, mas sentem-se atraídos.
Ao entenderem que o motivo da castidade é o amor, os jovens encaram-na como algo positivo. Mais que isso:como algo precioso, belo, fascinante.
A fornicação (relação sexual entre solteiros) nada mais é do que um ato de egoísmo praticado a dois. A fornicação está para o amor como o não está para o sim. Justamente porque os fornicadores não sabem esperar, não sabem se distanciar e não sabem se sacrificar, eles em nada diferem dos animais na época do cio. A fornicação é a suprema prova de falta de amor. É o sinal mais seguro de que os dois não merecem um ao outro, não merecem o sacramento do matrimônio e estão totalmente despreparados para constituírem uma família.

A alegria da castidade
Se a castidade é positiva em seu motivo – o amor – também o é em seu efeito. O efeito da castidade foi dito pelo próprio Jesus: a visão de Deus. Esta visão chama-se beatífica porque traz a felicidade. Aqui na terra ainda não temos a felicidade, mas temos um antegozo dela, que se chama alegria.
A fornicação (relação sexual entre solteiros), o adultério (relação sexual entre uma pessoa casada e outra que não o seu cônjuge) e outros pecados contra a castidade são capazes de oferecer prazer, mas não alegria.
O prazer é corpóreo. A alegria é espiritual.
O prazer é efêmero, passageiro. A alegria é perene e aponta para a felicidade eterna.
O prazer deixa um sabor amargo, um vazio, um remorso. A alegria deixa uma paz, que o mundo é incapaz de dar.
Se os que buscam o prazer na impureza conhecessem a alegria da pureza, desejariam ser puros nem que fosse só por interesse. De fato, a alegria da pureza está acima do prazer da impureza como o céu está acima da terra.

Distinções
Castidade não se confunde com ingenuidade ou ignorância.
A castidade não é privilégio daqueles que nada sabem sobre o ato sexual, nem daqueles que são ingênuos demais para perceberem a malícia do mundo.
Casto é aquele que, entendendo o desígnio de Deus sobre a transmissão da vida, recusa-se a admitir que ela se dê fora de um ato de autêntico amor. Casto é aquele que, precavendo-se das artimanhas do Maligno, sabe prudentemente evitar as ocasiões próximas de pecar.
O casto é um forte, um herói, cuja fortaleza e heroísmo provocam inveja dos impuros, que nada mais são do que fracos e covardes.
O casto é o vencedor cuja vitória irrita o impuro, que é derrotado pelos próprios instintos.

Virgem Prudentíssima
Quando perguntaram a Santa Bernardete se Nossa Senhora é bonita, a vidente respondeu espantada: “Se Nossa Senhora é bonita? Se você a visse, seu único desejo seria morrer para vê-la eternamente”.
Irmã Lúcia de Fátima, ao referir-se à Virgem Maria, disse: “Era uma senhora mais brilhante que o sol”[4].
Maria Santíssima brilha, não porque tenha luz própria, mas porque nunca pôs obstáculo à luz de Deus.
Se os castos brilham, e brilham tanto, não irradiam a própria luz, mas a de Deus, que neles penetra sem empecilho.
Para entendermos o brilho da castidade, olhemos para os olhos de uma criança. Que há neles que os diferencie dos olhos dos adultos? São olhos sinceros ( = “sem cera”), transparentes. O olhar de um bebê é algo misterioso. É um olhar que nos interpela. A criança ainda não aprendeu a usar máscaras, não criou crostas de sujeira em seus olhos. Ao olhar-nos ela se revela tal como é. E parece que enxerga algo que não enxergamos. Assim são os castos[5].
Na idade adulta, a castidade precisa ser mantida por uma constante vigilância.
“Vigiai e orai para não cairdes em tentação. Pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,41).
Em matéria de castidade – diz a Madre Maria Helena Cavalcanti – não há fortes nem fracos. Há prudentes e imprudentes.
Prudentes são os que, reconhecendo a própria fraqueza, fogem das ocasiões de pecar e agradecem aqueles que os auxiliam com conselhos e exortações.
Imprudentes são os loucos que, embora fracos, insistem em pensar que são fortes, que não cometerão o que os outros já cometeram, que rejeitam as recomendações dos pais e a vigilância de terceiros.
A castidade só se conserva pela prudência. Não é à toa que a Ladainha de Nossa Senhora chama-a de “Virgem prudentíssima”. O imprudente, ainda que ore, ainda que ore muito, acabará por cair, e grande será sua queda.
Para a conservação da castidade, dificilmente seremos exagerados em matéria de prudência. Os jovens que, por imprudência perderam a virgindade, e reconheceram tarde demais que eram fracos, sabem que não é exagero exigir
que os namorados nunca fiquem sozinhos;
que sempre haja a presença de uma terceira pessoa;
que sempre namorem em um lugar claro e iluminado;
que evitem qualquer contato físico que possa causar excitação, seja em si seja no outro.
Convém lembrar - nunca será demais insistir - que a castidade é um tesouro: “um homem o acha e o torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo” (Mt 13,44).
Não costumam ter sucesso as receitas para emagrecer que se concentram nas privações e proibições alimentares. É preciso algo para substituir, com vantagem, os alimentos proibidos aos obesos.
Também Jesus, em seu jejum, não embora se privasse de pão e sentisse fome, resistiu ao demônio dizendo: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).
Assim, uma pregação sobre a castidade precisa ser acompanhada de tudo o que ela tem de positivo, em compensação às privações que ela requer: o amor verdadeiro, a visão de Deus, o conhecimento de Deus, a alegria.
Nunca devemos esquecer esta bem-aventurança fundamental reservada aos castos: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).

SÃO TOMÁS responde!

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Parece que se deve adorar a mãe de Deus com adoração de latria, pois:




1. Parece que a mesma honra deve ser tributada ao rei e à mãe de rei, como afirma o livro dos Reis: “Foi colocado um trono para a mãe do rei e ela se sentou à sua direita” (I Re 2, 19). E Agostinho diz: “É justo que o trono de Deus, o leito nupcial do Senhor do céu e o tabernáculo de Cristo estejam lá onde se encontra o próprio Cristo”. Ora, Cristo é adorado com adoração de latria. Logo, também sua mãe.



2. Além disso, afirma Damasceno que “a honra à mãe remete ao filho”. Ora, o Filho é adorado com adoração de latria. Logo, a mãe também.



3. Ademais, a mãe de Cristo esteve mais unida a ele do que a cruz. Ora, a cruz é adorada com adoração de latria. Logo, também a mãe deve ser adorada com a mesma adoração.



EM SENTIDO CONTRÁRIO, a mãe de Deus é pura criatura; portanto, não lhe é devida adoração de latria.



RESPONDO. Dado que a latria é devida exclusivamente a Deus, não é devida a nenhuma criatura em si mesma. Pois, embora as criaturas insensíveis não tenham condições de ser veneradas em si mesmas, a criatura racional pode ser venerada por si mesma. Por isso, a nenhuma simples criatura racional se deve o culto de latria. E como a virgem bem-aventurada é uma simples criatura racional, não lhe é devida uma adoração de latria, mas unicamente uma veneração de dulia; de forma mais eminente, contudo, do que às outras criaturas, por ser a mãe de Deus. Por isso, se diz que lhe é devido não um culto de dulia qualquer, mas de hiperdulia.



Nota: Se veneramos os objetos inanimados na medida em que possuem uma certa relação com Cristo, por mais forte razão devemos venerar sua mãe, cujas relações com ele foram e são incomparavelmente superiores. Essa veneração não pode ser de latria, nem mesmo relativa, mas é claro que o culto de dulia que lhe é dirigido é tanto mais superior à dos outros santos na medida em que sua perfeição é maior. Daí a introdução por Santo Tomás do termo hiperdulia, que ele utilizou para se referir ao culto prestado à santa humanidade de Cristo. Não se deve esquecer, todavia, que a Virgem só possui essa excelência em total dependência da excelência do Verbo encarnado.



Quanto às objeções iniciais, portanto, deve-se dizer que:



1. A honra devida à mãe do rei não é a mesma que a que se deve ao rei; mas uma honra que se lhe assemelha, em razão de sua dignidade. É o sentido dos textos aduzidos.



2. A honra da mãe remete ao filho, porque ela mesma deve ser honrada por causa do filho. Mas não da maneira como a honra da imagem remete ao modelo, porque a imagem em si mesma, se considerada como uma coisa, não deve ser venerada de forma alguma.



3. A cruz, considerada em si mesma, não é objeto de veneração, como já foi dito. Mas a bem-aventurada Virgem, em si mesma, é passível de ser venerada. Por isso, a razão não é a mesma.



Fonte: ST, III, 25, 5

Modéstia no vestir!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

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Poder Feminino



Por Julie Maria



O homem quer ver, a mulher quer ser vista; o homem quer conquistar, a mulher ser conquistada: é a natureza das coisas. Por mais que digam que isso é “imposição”, lá no fundo, se fomos sinceros, veremos que a realidade das naturezas masculina e feminina é assim. A natureza humana também colocou essa atração na base do relacionamento humano, pois - apesar de que nenhum matrimônio sobrevive apenas à base da atração - o relacionamento entre um homem e uma mulher geralmente começa com ela.


Não é difícil para a mulher atrair o homem, mas nós estamos sendo instigadas pela mídia e ideologias pagãs a atraí-los sendo impuras, imodestas, indecentes e vulgares. Entretanto isso é totalmente contrário à nossa vocação, e mesmo que existam basicamente duas maneiras de atrairmos o olhar do homem - pela nossa pureza ou pela nossa impureza – apenas uma é digna: pela pureza, e essa decisão se reflete na nossa maneira de comportar e de vestir.


A mulher que atrai o homem pela sua pureza se veste de forma feminina e modesta; a mulher que atrai pela impureza está vestida de maneira indecente e vulgar. Neste último caso a visão masculina é, forçadamente, atraída para as partes sexuais do corpo feminino mostradas pela roupa usada (decotes, roupas justas ou transparentes), e tenderá a cometer pecados impuros por pensamento ou atos, e sem a graça da conversão, o homem ainda achará “normal” sua atitude, afinal a mulher buscou e “conseguiu” esse tipo de atração. Sendo assim, não sentirá culpa ou remorso, pois entenderá que a própria mulher quis ser olhada com desejo “libidinoso”, e ele apenas consentiu com sua vontade. As mulheres seminuas que inundam as ruas, as novelas, os programas de auditório, ou que se afanam de ter homens tirando fotos de suas nádegas (vestidas propositalmente com uma saia-cinto que mostra essa parte sexual do seu corpo) são o ápice desse tipo de atenção depravada requerida - e tida - pela mulher.


Ambos, homem e mulher, atuam nesse caso como seres infra-humanos, e não digo de forma “animal”, pois os animais não fazem este tipo de aberração devido ao seu instinto ser governado pela sabedoria divina, e eles não podem recusar obedecer a ela; já os homens podem e, de fato, recusam a viver conforme sua altíssima dignidade, como nesses casos citados.


Já a atração que uma mulher feminina e modesta exerce sobre o homem é uma atração saudável, que faz parte da natureza e da psicologia humana. É atração pelo belo, puro, nobre, e por aquilo que é diferente e complementar da natureza uni-dual do ser humano. Esse tipo de atração, em ultima instância, eleva o homem a Deus, pois ele agradece e louva o Senhor por essa obra prima da criação. A atração antinatural do imodesto e impuro denigre o homem, e é mais fácil ele pensar no prostíbulo do que no céu ao ver “partes sexuais desconexas da pessoa”. É difícil para nós, mulheres, entendermos tal fato, pois nossa psicologia não atua dessa forma. Mas com docilidade vamos poder compreender e ajudar nossos irmãos.


A atração masculino-feminina querida por Deus é aquela onde o homem não se “prende” em nenhuma parte do corpo e busca o rosto da mulher e seu olho, que deve ser puro como seu coração e seu corpo, e através do seu olhar faz acender o desejo de esse homem ser um melhor esposo, pai, e cristão. De qualquer forma, homem e mulher são sempre dignos de olhar e serem olhados como pessoa, e jamais como objeto. Mas é à mulher que compete, em primeiro lugar, impor respeito pelo seu comportamento e pela sua maneira de vestir. Por isso, a reforma moral de que a sociedade está sedenta só poderá começar pela purificação da mulher.


Quando o homem vê a mulher vestida de forma feminina e modesta e ainda assim tem pensamentos impuros, ele sente profunda dor, pois sabe que a violentou em seu coração, já que ela não lhe deu permissão para isso. Ele tem nesse momento – através do comportamento e da veste da mulher modesta – a oportunidade de se arrepender e recomeçar a jornada de aprender a olhar o outro, e especialmente o sexo oposto, com o mesmo olhar puro de Deus, e nisso encontrar a alegria que nenhum ato impuro pode, jamais, oferecer.


Enquanto a impureza, a imodéstia, o adultério – por pensamento ou ação – são vistos como algo “normal” por meio da TV com suas novelas, programas, atrizes e bailarinas que vivem à custa da sua impureza e das dos outros, estamos longe de ser uma nação que adora a Deus, e mereceremos escutar dos lábios do Redentor: “Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.”


É isso mesmo que desejamos como nação? É isso mesmo que queremos escutar de Deus? Qual a imagem que você quer refletir e deixar na história?


Não aceitemos as mentiras que se disfarçam de mel. As mentiras continuam contendo venenos, apesar de sua boa “aparência”. Desejemos ardentemente a pureza! Amemos a modéstia! Sejamos femininas no nosso comportamento e no nosso vestir, e assim seremos construtoras de uma nova civilização: a civilização do amor!