Luís Maria Grignon de Montfort

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Apóstolo da Cruz
M. I. P. Miranda
Luís Maria Grignon, de Montfort, nasceu e viveu na França do século XVII. Numa França impregnada pela doutrina jansenista, a qual, crendo na predestinação, apresentava aos fiéis um Deus tirânico e sem misericórdia. Diante do qual o homem só podia temer e tremer. Uma doutrina que, a pretexto do respeito pela Eucaristia, afastava as almas da comunhão. Que a pretexto de não ofuscar a glória de Deus, distanciava os homens da Mãe de Deus. Os defensores dessa heresia serão os mais cruéis perseguidores de Montfort, e ele será um de seus maiores inimigos.
Desde o seminário, sua piedade, seu zelo e suas penitências suscitam contra ele invejas e inimizades. Ordenado aos vinte e sete anos, seu superior o envia para Nantes, onde passa a viver em uma comunidade sacerdotal, da qual todos os membros serão condenados mais tarde como jansenistas, morrendo impenitentes. Era natural que São Luís se opusesse a tal ambiente, tendo manifestado seu desagrado a seu superior.

Sua sinceridade não foi, ao que parece, apreciada. Removido para um hospital em Poitiers, acaba por ser expulso não só do hospital, mas também da diocese.
Após inúmeros sofrimentos, perseguições, expulsões, idas e vindas, resolve ir a Roma, pedir ao Papa permissão para trabalhar nas missões de além-mar, uma vez que na França parecia-lhe impossível continuar o apostolado.
Faz a pé a viagem até Roma, sendo recebido pelo Soberano Pontífice. Esse lhe ordena que permaneça na França, onde seu zelo seria muito necessário, concedendo-lhe para tanto o título de missionário apostólico.
Daí em diante, até quase o fim de sua vida, as perseguições dos jansenistas serão cada vez mais constantes e violentas.
Conseguindo sempre conversões numerosas e duradouras, seguido por multidões que atraía com sua palavra comovedora mas profunda, simples mas imbatível, Montfort será expulso de paróquia em paróquia, de diocese em diocese.
Após ter fundado três congregações religiosas, morre aos 43 anos. Dez mil pessoas quiseram venerar seu corpo.
Beatificado por Leão XIII em 1888, São Luis de Montfort foi canonizado por Pio XII em 20.7.47.
Quando se conhece em detalhe a vida de São Luís, não se pode deixar de admirar a "santa loucura da cruz" que o dominava. Toda a sua existência se passa entre mortificações e perseguições de todos os tipos, e ele considerava isso o maior de todos os bens.
A seu amigo Blain, que o censura, culpando-o pelas perseguições que sofre, responde:
"Dais-me como exemplo pessoas muito prudentes e de grande virtude a quem ninguém pensa em censurar. Mas há duas espécies de prudência: a própria dos cristãos que vivem em sociedade, e outra que vai melhor aos missionários e homens apostólicos. Os primeiros, para proceder prudentemente, só têm que observar as regras e costumes de uma casa santa; os outros vêem-se freqüentemente obrigados a desprezar a própria glória para buscar a de Deus, e, para isso, têm que lançar-se em mais de uma empresa que choca e até escandaliza. Não é de estranhar que se deixe em paz aos primeiros e se ataque os segundos. Quando os homens de ação são bem acolhidos pelo mundo é sinal de que o inferno não os teme. Se a prudência consistisse simplesmente em não dar que falar, os apóstolos não precisariam ter saído de Jerusalém, nem São Paulo teria sido obrigado a fazer tantas viagens, nem São Pedro por que fincar a cruz no Capitólio. Com uma prudência assim não se teria sobressaltado a Sinagoga, mas também não se teria conquistado o mundo".
A Maria Luísa Trichet, com quem mais tarde fundará a Congregação das Filhas da Sabedoria, escreve:
"Sou-vos infinitamente grato: estou sentindo o efeito de vossas orações, já que, hoje mais do que nunca, me vejo empobrecido, crucificado, humilhado. Homens e demônios desta grande cidade de Paris, movem-me uma guerra que me é amável e suave. Que me caluniem, que me ridicularizem, que destruam minha reputação, que cheguem até a prender-me. Que preciosos dons! Que manjares deliciosos! Que grandezas encantadoras! São o séquito e a companhia indispensáveis que a divina Sabedoria envia à casa daqueles onde deseja habitar. Quando me será dado possuir essa amável e desconhecida Sabedoria!"
A Sabedoria - palavra chave do vocabulário montfortiano - é a busca constante e a única aspiração do incansável apóstolo. E a Sabedoria se encontra no sofrimento, na cruz. Porque a Sabedoria foi crucificada.
"Jesus Cristo veio ao mundo por meio da Santíssima Virgem, e por Ela deve também reinar no mundo" (Tratado da Verdadeira Devoção).
Nessa frase simples se resume todo o programa de São Luís para a aquisição da sabedoria e a conseqüente instauração do reino de Cristo nas almas e na sociedade. Maria Santíssima, Mãe da Sabedoria Encarnada, é o melhor caminho para encontrar o Filho de Deus.
O "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", certamente a mais importante das obras teológicas sobre a devoção à Virgem Maria.
Essa devoção se fundamenta em dois princípios:
1. Deus quis servir-se de Maria na Encarnação, ou seja, o Verbo de Deus se fez homem através de Maria, com o consentimento d'Ela, com a participação d'Ela. O Pai pediu sua anuência; o filho habitou seu seio; o Espírito Santo a cobriu com sua sombra (cfr. Lc 1,35).
2. Deus quer servir-se de Maria na santificação das almas. Pois sendo Ele invariável em sua conduta, é ainda e sempre através de Maria que forma Jesus Cristo nas almas. Ele continua sendo o "bendito fruto" de seu ventre e "é certo que Jesus Cristo para cada homem que o possui em particular, é tão verdadeiramente fruto e obras de Maria, como o é para todo o mundo em geral" (TVD, 33).
Por isso a devoção à Santíssima Virgem é necessária a todos os homens para a salvação e, muito especialmente, àqueles que são chamados a uma perfeição particular" (TVD, 40-43).
A verdadeira devoção à Santíssima Virgem tem, segundo São Luís, cinco características:
1. Ela é interior, ou seja, vem do espírito e do coração, fundamentando-se numa idéia adequada do enorme papel representado por Maria no plano da Redenção, e num amor coerente com essa idéia;
2. Ela é terna, gerando na alma uma grande confiança, que faz recorrer a Maria em todas as suas necessidades, como uma criança recorre a sua mãe;
3. Ela é santa, isto é, faz com que se evite todo o pecado e se imitem as virtudes da Santíssima Virgem;
4. Ela é constante, consolidando a alma no bem e fazendo com que não abandone facilmente o caminho iniciado.
5. Ela é desinteressada, inspirando a alma a buscar mais a glória de Deus que suas próprias vantagens.
Todas essas notas, São Luís as reúne na prática que chama de escravidão de amor à Santíssima Virgem, pela qual se entregam a Maria todos os bens interiores e exteriores, para que de tudo Ela disponha segundo o agrado de Deus.
Às vésperas da Revolução Francesa, que pregaria a total liberdade, São Luís ensina a escravidão àquela que se proclamou escrava de Deus.

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Salve Maria!

Que o Espírito Santo conduza suas palavras. E que Deus nos abençoe sempre.

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***Para maiores esclarecimentos: não sou adepta deste falso ecumenismo, não sou relativista, não sou sincretista, não tenho a mínima vontade de divulgar heresias; minha intenção não será outra a não ser combater tudo que cito acima!

Por fim, penso que esclarecidas as partes, que sejam bem vindos todos que vierem acrescentar algo mais neste pequeno sítio.