Correção de Crianças - parte 2

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Corrigir não é castigar

O que dissemos marca a diferença entre correção e castigo - aquela, essencialmente emendativa, e este, ordinariamente punitivo. Aliás, os próprios nomes falam por si.

Há mais de um século, o grande pedagogo francês Monsenhor Dupanloup acentuava esta diferença, de que não tomaram conhecimento os educadores em geral.

Para os que procuram mais o próprio sossego que o progresso moral dos filhos, castigar é mais cômodo: umas palmadas no pequenino que jogou a merenda no chão, uns bofetões no rapazola que respondeu com arrogância, chineladas na menina que entornou tinta no vestido novo, um mês sem passeio para quem não teve média na prova parcial, trancar as crianças no quarto dos fundos porque perturbaram o silêncio de que precisa o pai, e outras medidas policiais do mesmo teor dão "soluções" imediatas, que contentam o adulto desprevenido, mas nada adiantam à educação, e, pelo contrário a prejudicam.

A experiência ensina que os castigos são aplicados precisamente nas condições em que não se deve sequer tentar a correção, isto é, sob o impulso das paixões. É na hora da zanga que os filhos apanham! Quando me consultam a respeito de castigos físicos, não perco tempo em combatê-los: aprovo-os, desde que deixem passar a excitação e, amanhã ou depois, de sangue frio, cabeça serena, chamem a criança, para malhá-la.

A resposta é única e infalível: "Ah! mas assim ninguém tem coragem"... É um ato impulsivo, bárbaro, desumano, que só se faz quando não se raciocina! Filho da vingança, e não do amor.

Por isso mesmo, longe de educar, os castigos conseguem apenas:

- revoltar as crianças briosas;
- inferiorizar as tímidas;
- eliminar o amor e a confiança, que serão substituídas pelo medo e pela deslealdade;
- fixar as obstinadas, apegando-as cada vez mais a suas faltas, agravando-lhes a situação, dificultando-lhes a correção;
- humilhar, em lugar de estimular (que é a grande tática do eduador)
- amedontrar, criando hipocrisias;
- orientar noutro sentido as violências represadas, que se compensarão no furto, na mentira, na impureza, e noutros derivativos da infelicidade;
- apurar a técnica dos faltosos, para escaparem à férula;
- levar ao desespero - menino que foge de casa, menina que casa com o primeiro doidivanas que lhe aparece, para escaparem à tirania do lar.

Os adeptos dos castigos, sobretudo dos castigos físicos, alegam, satisfeitos, os resultados de sua "paudagogia". De fato, há crianças de tão boa índole que se corrigem mesmo assim; mas são raras. Comum é dar-se apenas uma aparência de melhora.

Eliminam-se ou dimunuem os frutos, mas a raíz fica, e frutificará de novo, quando cessar a pressão. A pobre criança cede, vítima de dois elementos que a dominam - por fora a força dos castigos, por dentro a tendência que permanece intacta, quando não reforçada pela oposição.

Mais comom é virem os pais trazer-vos o adolescente traumatizado, revoltado, endurecido ou humilhado, entregue a vícios, "incorrigíveis", pedindo nossa ajuda: "Já fizemos tudo, e ele continua cada vez pior."

Há, infelizmente, casos em que somos obrigados a ímpor castigos, em vista da fraqueza de certos educandos, que é necessário conter mesmo a contragosto seu. Mas então deve o educador procurar o bem direto da criança, e não uma satisfação à sua autoridade ou uma justificativa à preguiça de educar.

Fica, pois, acentuada a diferença entre castigo e correção, para que abramos mão daquele e pratiquemos esta.

Trabalho de educação

É a correção puro trabalho educativo, em que nós somos apenas instrumentos extrínsecos e transitórios, dispensados tão logo esteja terminada a tarefa, e a criança é o elemento primordial, a ser interessada na autodisciplina.

A correção só realiza o fim se atingir o íntimo da criança, criando-lhe uma atitude interior, profunda, pessoal. Ela deseja uma mudança, determinada pelo próprio educando, o qual se convence de que agiu mal, arrepende-se e se dispõe a emendar-se.

O educador tem o seu papel, importantíssimo, indispensável (porque a criança é ainda incapaz de realizar sozinha tão dificil tarefa); mas é apenas um auxiliar. A sua função, nem sempre agradavelmente recebida, é ajudar. O trabalho decisivo é do educando. Ninguém o modifica, arrepende, delibera e corrige: é ele que se modifica, se arrepende, se delibera e se corrige. Ele não o conseguirá sem nossa ajuda; mas o trabalho de corrigir-se é dele - de sua compreensão, de sua consciência, de seus esforços.

Nossa grande virtude está em conseguirmos que ele queira corrigir-se.

Os pais e a correção

Em face da correção dos filhos, podemos classificar os pais em 5 categorias:

- os cegos: não vêem as faltas dos seus encantadores rebentos;
- os fracos: não têm coragem ou autoridade para corrigir;
- os negligentes: não cuidam da correção dos filhos;
- os ignorantes: retos, bem intencionados, não sabem, contudo, como proceder;
- os certos: mercê de Deus, os temos, e em número crescente.

Para curar os cegos, só Cristo, multiplicando por toda parte piscinas de Siloé, para que eles se lavem e vejam (Cf. Jo 9,7). Quanto aos mais, ajude-os e ilumine-os a graça de Deus, que outra finalidade não temos senão animar os fracos, despertar os negligentes, ensinar os de boa vontade, e estimular os certos.

Querer corrigir

Parte essencial da educação, é a correção grave dever dos pais. Alguns, porém, se negam a cumpri-lo, esquecidos de que, mais do que a si, prejudicam as pobres crianças, cujo futuro gravemente comprometem. Lembremo-lhes as severas admoestações da Bíblia. Destaquemos o cap. 30 do Eclesiástico, nos 13 versículos primeiros, por ser o trecho que mais densamente fala do assunto (conferir).

Conhecer os filhos

Decididos a corrigir os filhos, sincera e eficazmente decididos, a primeira medida é cuidar de conhecê-los, para saber o que lhes hão de emendar.

Os conhecimentos da psicologia infantil são necessários aos pais, sobretudo às mães. É pena que os colégios femininos não os ministrem a suas alunas , juntamente com outros elementos igualmente necessários às mães de família. Para suprir esta deplorável deficiência, procurem os pais conhecer as características da alma infantil nas etapas do desenvolvimento, inclusive a adolescência. Isto lhes facilitará bastante o trato com os filhos.

Além desse conhecimento genérico, há outro, mais imediato, concreto e prático, que desejo encarecer. É preciso conhecer cada criança, na sua realidade. E para isto é sumamente importante que os pais tenham olhos de ver e ouvidos de ouvir.

Olhos a ver

Há pais que só enxergam qualidades em seus filhos. Sem dúvida, é necessário ressaltá-las, para estimular seu desenvolvimento, que nada é tão benéfico como um sadio otimismo. Mas é também necessário ver os defeitos, para corrigi-los. Outros são ainda piores: não querem ver. Mesmo quando lhes apontam um defeito da criança, eles se negam a reconhecê-lo. Não é defeito: é até qualidade! Exemplo:

O menino, 11 anos, chegou se gabando de ter enganado o coleguinha na troca de umas bolas de gude; chamei a atenção da mãe para a desonestidade do filho, e ela me respondeu: "Todos eles são assim: têm um jeito para negócios!... Puxaram ao pai."

Ouvidos de ouvir

A convivência permanente às vezes dificulta o bom conhecimento. Um olhar estranho observa melhor, máxime se for de educador, habituado à observação interessada de qualidades e defeitos. Chamando a atenção de amigos para qualidades e defeitos de seus filhos, tenho ouvido deles que ainda não os tinham notado, embora sejam cuidadosos na educação. E alguns ficam agradecidos pela indicação.
Outros porém, não querem ouvir, pensam (e dizem) que estamos acusando os "filhinhos da mamãe", tomam atitude defensiva (quando não ofensiva ...), justificam os mais evidentes defeitos, estabelecem comparações com outras crianças em face das quais seus filhos são até muito bons!


Alguns exemplos

Da minha longa experiência poderia citar centenas de casos.

- Tendo-lhe o filho respondido grosseiramente, e como eu o chamasse arrebatado, o pai redarguiu: "É muito brioso!"

- Aconselhei especiais cuidados, inclusive médicos, para um menino com evidentes sinais de efeminado; a mãe logo o defendeu: "É tão carinhoso!"
- Outra mãe, a quem notei que o filho era demasiado indolente, saiu-se com esta: "Quem me dera que todos fossem sossegados como ele!"
... Desnecessário prosseguir. Todos, infelizmente, conhecem casos semelhantes, também em grande número. É pena, porque, ouvindo os mestres, os parentes, os amigos verdadeiros, os entendidos em pedagogia, podem os pais encaminhar melhor a correção, vale dizer a educação dos filhos. Se porém, os não conhecem, como corrigi-los?

Desenganem-se, enquanto é tempo, os que se negam a ver e ouvir a verdade, a pretexto de "adorarem" os filhos. O verdadeiro amor não é o que quer bem, mas sim o que quer o bem. Fechar os olhos sobre os defeitos das crianças é prepar-lhes uma vida de tropeços e desgostos, porque os estranhos não terão com eles a mesma tolerância dos pais, e mais tarde os próprios filhos sentirão dificuldades, praticamente insuperáveis, para se corrigirem.

Não porque as faltas em si sejam incorrigíveis (os irrecuperáveis estão hoje reduzidos a número cada vez menor), mas porque a pessoa não adquiriu capacidade de emendar-se. Falta-lhe força de vontade, mesmo quando reconhece os erros e a necessidade de eliminá-los.

(Excertos do livro: Corrija o seu filho - Mons. Álvaro Negromonte)

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Salve Maria!

Que o Espírito Santo conduza suas palavras. E que Deus nos abençoe sempre.

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***Para maiores esclarecimentos: não sou adepta deste falso ecumenismo, não sou relativista, não sou sincretista, não tenho a mínima vontade de divulgar heresias; minha intenção não será outra a não ser combater tudo que cito acima!

Por fim, penso que esclarecidas as partes, que sejam bem vindos todos que vierem acrescentar algo mais neste pequeno sítio.